Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 27 de agosto de 2017

Eugenio Montale - Divindades Incógnitas

A divagar sobre o tema dos deuses que atuam em nosso mundo terreno, mas que não se permitem localizar e ver, este poema de Montale, de fato, veleja pela mescla dos enfoques físico e transcendental da pessoa humana, postulando a sua remição espiritual e moral, em termos da dualidade mundana e divina do amor que nos é intrínseco.

Assim, haveria divindades incógnitas entre nós, e encontrá-las é uma das missões atribuídas aos poetas, cujo mister sempre aspira pelo sublime. Teríamos, aí, um jogo recíproco de esconde-esconde entre as divindades e a humanidade?!

J.A.R. – H.C.

Eugenio Montale
(1896-1981)

Divinità in Incognito

Dicono
che di terrestrí divinità tra noi
se ne incontrano sempre meno.
Molte persone dubitano
della loto esistenza su questa terra.

Dicono
che in questo mondo o sopra ce n’è una sola o nessuna;
credono
che i savi antichi fossero tutti pazzi,
schiavi di sortilegi se opinavano
che qualche nume in incognito
li visitasse.

Io dico
che immortali invisibili
agli altri e forse inconsci
del loro privilegio,
deità in fustagno e tascapane,
sacerdotesse in gabardine e sandali,
pizie assorte nel fumo di un gran falò di pigne,
numinose fantasime non irreali, tangibili,
toccate mai
io ne ho vedute più volte
ma era troppo tardi se tentavo
di smascherarle.

Dicono
che gli dèi non discendono quaggiù,
che il creatore non cala col paracadute,
Che Il fondatore non fonda perchè nessuno
l’ha mai fondato o fonduto
e noi siamo solo disguidi
del suo nullificante magistero;
Eppure
se una divinità, anche d’infimo grado,
mi ha sfiorato
quel brivido m’ha detto tutto e intanto
l’agnizione mancava e il non essente
essere dileguava.

Intercessão de Santa Tecla para
libertação de Este da praga de 1630
(Giovanni Battista Tiepolo: pintor italiano)

Divindades Incógnitas

Dizem
que de divindades terrestres entre nós
se encontram cada vez menos.
Muitas pessoas duvidam
de sua existência nesta terra.

Dizem
que neste mundo ou no de cima existe uma só ou nenhuma;
crêem
que os sábios antigos eram todos uns loucos,
escravos de sortilégios se diziam
que algum deus incógnito
os visitava.

Eu digo
que imortais invisíveis
aos outros e talvez inconscientes
de seus privilégios,
divindades em jeans e com suas mochilas,
sacerdotisas em gabardine e sandálias,
pitonisas de ar absorto à fumaça de um fogo de pinhões,
numinosas visões não irreais, tangíveis,
intocadas,
vi muitas vezes
mas era sempre tarde demais se tentava
desmascará-las.

Dizem
que os deuses não descem neste mundo,
que o criador não cai de pára-quedas,
que o fundador não funda porque ninguém
jamais o fundou ou fundiu
e que nós não somos mais do que os desastres
de seu nulificante magistério;
contudo
se uma divindade, mesmo de ínfimo grau,
alguma vez me roçou
o arrepio que senti me disse tudo e no entanto
faltava-me reconhecê-la e o não existente
ser se esvanecia.

Referência:

MONTALE, Eugenio. Divinità in incógnito / Divindades incógnitas. Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti. In: __________. Poesias. Edição bilíngue. Seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti. Prefácio de Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1997. Em italiano: p. 156 e 158; em português: p. 157 e 159.

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