A divagar sobre o tema dos deuses que atuam em nosso mundo terreno, mas
que não se permitem localizar e ver, este poema de Montale, de fato, veleja
pela mescla dos enfoques físico e transcendental da pessoa humana, postulando a
sua remição espiritual e moral, em termos da dualidade mundana e divina do amor
que nos é intrínseco.
Assim, haveria divindades incógnitas entre nós, e encontrá-las é uma das
missões atribuídas aos poetas, cujo mister sempre aspira pelo sublime.
Teríamos, aí, um jogo recíproco de esconde-esconde entre as divindades e a
humanidade?!
J.A.R. – H.C.
Eugenio Montale
(1896-1981)
Divinità in Incognito
Dicono
che di terrestrí
divinità tra noi
se ne incontrano
sempre meno.
Molte persone dubitano
della loto esistenza
su questa terra.
Dicono
che in questo mondo o
sopra ce n’è una sola o nessuna;
credono
che i savi antichi
fossero tutti pazzi,
schiavi di sortilegi
se opinavano
che qualche nume in incognito
li visitasse.
Io dico
che immortali
invisibili
agli altri e forse
inconsci
del loro privilegio,
deità in fustagno e
tascapane,
sacerdotesse in
gabardine e sandali,
pizie assorte nel
fumo di un gran falò di pigne,
numinose fantasime
non irreali, tangibili,
toccate mai
io ne ho vedute più
volte
ma era troppo tardi
se tentavo
di smascherarle.
Dicono
che gli dèi non
discendono quaggiù,
che il creatore non
cala col paracadute,
Che Il fondatore non
fonda perchè nessuno
l’ha mai fondato o
fonduto
e noi siamo solo
disguidi
del suo nullificante
magistero;
Eppure
se una divinità,
anche d’infimo grado,
mi ha sfiorato
quel brivido m’ha
detto tutto e intanto
l’agnizione mancava e
il non essente
essere dileguava.
Intercessão de Santa Tecla para
libertação de Este da praga de 1630
(Giovanni Battista
Tiepolo: pintor italiano)
Divindades Incógnitas
Dizem
que de divindades
terrestres entre nós
se encontram cada vez
menos.
Muitas pessoas
duvidam
de sua existência
nesta terra.
Dizem
que neste mundo ou no
de cima existe uma só ou nenhuma;
crêem
que os sábios antigos
eram todos uns loucos,
escravos de
sortilégios se diziam
que algum deus
incógnito
os visitava.
Eu digo
que imortais
invisíveis
aos outros e talvez
inconscientes
de seus privilégios,
divindades em jeans e com suas mochilas,
sacerdotisas em
gabardine e sandálias,
pitonisas de ar
absorto à fumaça de um fogo de pinhões,
numinosas visões não
irreais, tangíveis,
intocadas,
vi muitas vezes
mas era sempre tarde
demais se tentava
desmascará-las.
Dizem
que os deuses não
descem neste mundo,
que o criador não cai
de pára-quedas,
que o fundador não
funda porque ninguém
jamais o fundou ou
fundiu
e que nós não somos
mais do que os desastres
de seu nulificante
magistério;
contudo
se uma divindade,
mesmo de ínfimo grau,
alguma vez me roçou
o arrepio que senti
me disse tudo e no entanto
faltava-me
reconhecê-la e o não existente
ser se esvanecia.
Referência:
MONTALE, Eugenio. Divinità in incógnito
/ Divindades incógnitas. Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti. In:
__________. Poesias. Edição
bilíngue. Seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti. Prefácio de
Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1997. Em italiano: p. 156
e 158; em português: p. 157 e 159.
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