Um farol, em meio ao mar revolto, é o objeto de observação do poeta, que
o transmuda em palavras, na forma de um soneto de versos alexandrinos
dodecassílabos, com indisfarçáveis tendências parnasianas, a despertar os
sentidos, em especial a audição e a visão.
Note, internauta, que ao se ler o poema, somos levados facilmente às
imagens e aos sons associados ao que se descreve: à luz projetada pelo farol a
se espargir em circunvoluções sobre as águas; ao barulho das ondas do mar e
mesmo do vento que as açula; às naus que, em decorrência, balouçam sem cessar, expostas
aos perigos dos arrecifes que por ali existem... Tudo muito descritivo, ou mais
bem, sem subjetivismos.
J.A.R. – H.C.
Victor Silva
(1865-1922)
O Farol
Na amplidão do mar
alto entre as vagas se apruma
O vulto do farol como
uma sentinela;
Estardalhaça o vento,
e a rugir se encapela
A água negra do mar
em turbilhões de espuma.
Enche a trágica
noite, atroa e se avoluma
Um insano clamor nas
asas da procela:
É a morte! E ao
temporal que as vagas atropela
Rodopiam as naus na
escuridão da bruma.
Mas, súbito um clarão
a espessa treva inflama,
Acende o mar bravio,
ilumina os escolhos,
E guia o rumo às naus
contra os parcéis da morte...
É a vida! É o farol
que escancarando os olhos,
Vira e revira em
torno as órbitas de chama,
Ora ao Norte, ora ao
Sul, ora ao Sul, ora ao Norte...
Farol em Stora Bält
(Anton Melbye: pintor
dinamarquês)
Referência:
SILVA, Victor. O farol. In: __________.
Vitórias. Porto Alegre, RS:
Barcelos, Bertaso & Cia.; Livraria do Globo, 1924. p. 64-65.
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