A expressão do poeta é a expressão também dos outros com quem entrou em
contato, convívio, relacionamentos. E estão todos nos versos de seus poemas,
entrelaçados pelos mesmos propósitos, sentimentos, buscas, vitórias ou
fracassos.
Como árvores, sem ninhos ou com ninhos que reproduzem a vida, Benedetti
reitera a máxima de que não se faz verão sendo uma andorinha apartada. E em
nossos percursos contingentes, tudo são compromissos assumidos para o bem
comum, ainda que possam se opor a outras tantas visões de mundo.
J.A.R. – H.C.
Mario Benedetti
(1920-2009)
Como Árboles
Quién hubiera dicho
que estos poemas de
otros
iban a ser
míos
después de todo hay
hombres que no fui
y sin embargo quise
ser
si no por una vida al menos por un rato
o por un parpadeo
en cambio hay hombres
que fui
y ya no soy ni puedo
ser
y esto no siempre es
un avance
a veces es una
tristeza
hay deseos profundos
y nonatos
que prolongué como
coordenadas
hay fantasías que me
prometí
y desgraciadamente no
he cumplido
y otras que me cumplí
sin prometérmelas
hay rostros de verdad
que alumbraron mis
fábulas
rostros que no vi más
pero siguieron
vigilándome desde
la letra en que los
puse
hay fantasmas de
carne otros de hueso
también hay los de
lumbre y corazón
o sea cuerpos en pena almas en júbilo
que vi o toqué o
simplemente puse
a secar
a vivir
a gozar
a morirse
pero además está lo
qe advertí de lejos
yo también escuché
una paloma
que era de otros
diluvios
yo tambén destrocé un
paraíso
que era de otras
infancias
yo también gemí un
sueño
que era de otros
amores
asi pues
desde este misterioso
confín de la existencia
los otros me
ampararon como árboles
con nidos o sin nidos
poco importa
no me dieron envidia
sino frutos
esos otros están
aqui
sus poemas
son mentiras de a
puño
son verdades piadosas
están aqui
rodeándome
juzgandome
con las pobres
palabras que les di
hombres que miran
tierra y cielo
a través de la niebla
o sin sus anteojos
también a mí me miran
con la pobre mirada
que les di
son otros que están
fuera de mi reino
claro
pero además
estoy en ellos
a veces tienen lo que
nunca tuve
a veces aman lo que
quise amar
a veces odian lo que
estoy odiando
de pronto me parecen
lejanos
tan remotos
que me dan vértigo y
melancolía
y los veo minados por
un duelo sin llanto
y otras veces en cambio
los presiento tan
cerca
que miro por sus ojos
y toco por sus manos
y cuando odian me
alegro de su rencor
y cuando aman me
arrimo a su alegría
quién hubiera dicho
que estos poemas míos
iban a ser
de otros
O Ritual
(Victor Bregeda:
artista russo)
Como Árvores
Quem teria dito
que estes poemas de
outros iriam ser
meus
depois de tudo há
homens que eu não fui
e mesmo assim tentei
ser
se não por uma vida ao menos por um instante
ou por um piscar
d’olhos
porém há homens que
fui
e já não sou nem
posso ser
e isto nem sempre é
uma vantagem
às vezes é uma
tristeza
há desejos profundos
e nonatos
que prolonguei como
coordenadas
há fantasias que me
prometi
e infelizmente não
cumpri
e outras que cumpri
sem me prometer
há rostos de verdade
que iluminaram minhas
fábulas
rostos que nunca mais
vi mas continuaram
a me vigiar a partir
da letra em que
entraram
há fantasmas de carne outros de osso
há ainda os de lume e
coração
ou seja corpos em
pena almas em júbilo
que vi ou toquei ou
simplesmente pus
para secar
para viver
para gozar
para morrer
mas há também os que
percebi de longe
eu também escutei uma
pomba
que era de outros
dilúvios
eu também arrebentei
um paraíso
que era de outras
infâncias
eu também gemi um
sonho
que era de outros
amores
assim pois
desde este misterioso
confim da existência
os outros me
ampararam como árvores
com ninhos ou sem
ninhos
pouco importa
não me deram inveja
mas sim frutos
esses outros estão
aqui
seus poemas
são mentiras aos
montes
são verdades piedosas
estão aqui
cercando-me
julgando-me
com as pobres
palavras que lhes dei
homens que olham
terra e céu
e através da névoa
ou sem seus óculos
também a mim me olham
com o pobre olhar que
lhes dei
são outros que estão
fora do meu reino
claro
mas também
estou neles
às vezes têm o que
nunca tive
às vezes amam o que
quis amar
às vezes odeiam o que
estou odiando
de repente me parecem
distantes
tão remotos
que me dão vertigem e
melancolia
e os vejo minados por
uma dor sem prantos
e outras vezes porém
os pressinto tão
perto
que olho por seus
olhos
e toco por suas mãos
e quando odeiam me
junto a seu rancor
e quando amam me
achego a sua alegria
quem teria dito
que estes poemas meus
iriam ser
de outros
Referência:
BENEDETTI, Mario. Como árboles / Como
árvores. Tradução de Julio Luís Gehlen. In: __________. Antologia poética. Tradução de Julio Luís Gehlen. Edição bilíngue.
Rio de Janeiro, RJ: Record, 1988. Em espanhol: p. 176, 178 e 180; em português:
p. 177, 179 e 181.
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