Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 12 de agosto de 2017

Mario Benedetti - Como Árvores

A expressão do poeta é a expressão também dos outros com quem entrou em contato, convívio, relacionamentos. E estão todos nos versos de seus poemas, entrelaçados pelos mesmos propósitos, sentimentos, buscas, vitórias ou fracassos.

Como árvores, sem ninhos ou com ninhos que reproduzem a vida, Benedetti reitera a máxima de que não se faz verão sendo uma andorinha apartada. E em nossos percursos contingentes, tudo são compromissos assumidos para o bem comum, ainda que possam se opor a outras tantas visões de mundo.

J.A.R. – H.C.

Mario Benedetti
(1920-2009)

Como Árboles

Quién hubiera dicho
que estos poemas de otros
iban a ser
míos

después de todo hay hombres que no fui
y sin embargo quise ser
si no por una vida     al menos por un rato
o por un parpadeo

en cambio hay hombres que fui
y ya no soy ni puedo ser
y esto no siempre es un avance
a veces es una tristeza

hay deseos profundos y nonatos
que prolongué como coordenadas
hay fantasías que me prometí
y desgraciadamente no he cumplido
y otras que me cumplí sin prometérmelas

hay rostros de verdad
que alumbraron mis fábulas
rostros que no vi más pero siguieron
vigilándome desde
la letra en que los puse

hay fantasmas de carne     otros de hueso
también hay los de lumbre y corazón
o sea cuerpos en pena     almas en júbilo
que vi o toqué o simplemente puse
a secar
a vivir
a gozar
a morirse
pero además está lo qe advertí de lejos

yo también escuché una paloma
que era de otros diluvios
yo tambén destrocé un paraíso
que era de otras infancias
yo también gemí un sueño
que era de otros amores

asi pues
desde este misterioso confín de la existencia
los otros me ampararon como árboles
con nidos o sin nidos
poco importa
no me dieron envidia sino frutos

esos otros están
aqui

sus poemas
son mentiras de a puño
son verdades piadosas

están aqui
rodeándome
juzgandome
con las pobres palabras que les di

hombres que miran tierra y cielo
a través de la niebla
o sin sus anteojos
también a mí me miran
con la pobre mirada que les di
son otros que están fuera de mi reino
claro
pero además
estoy en ellos

a veces tienen lo que nunca tuve
a veces aman lo que quise amar
a veces odian lo que estoy odiando

de pronto me parecen lejanos
tan remotos
que me dan vértigo y melancolía
y los veo minados por un duelo sin llanto
y otras veces     en cambio
los presiento tan cerca
que miro por sus ojos
y toco por sus manos
y cuando odian me alegro de su rencor
y cuando aman me arrimo a su alegría

quién hubiera dicho
que estos poemas míos
iban a ser
de otros

O Ritual
(Victor Bregeda: artista russo)

Como Árvores

Quem teria dito
que estes poemas de outros iriam ser
meus

depois de tudo há homens que eu não fui
e mesmo assim tentei ser
se não por uma vida     ao menos por um instante
ou por um piscar d’olhos

porém há homens que fui
e já não sou nem posso ser
e isto nem sempre é uma vantagem
às vezes é uma tristeza

há desejos profundos e nonatos
que prolonguei como coordenadas
há fantasias que me prometi
e infelizmente não cumpri
e outras que cumpri sem me prometer

há rostos de verdade
que iluminaram minhas fábulas
rostos que nunca mais vi mas continuaram
a me vigiar a partir
da letra em que entraram

há fantasmas de carne     outros de osso
há ainda os de lume e coração
ou seja corpos em pena     almas em júbilo
que vi ou toquei ou simplesmente pus
para secar
para viver
para gozar
para morrer
mas há também os que percebi de longe

eu também escutei uma pomba
que era de outros dilúvios
eu também arrebentei um paraíso
que era de outras infâncias
eu também gemi um sonho
que era de outros amores

assim pois
desde este misterioso confim da existência
os outros me ampararam como árvores
com ninhos ou sem ninhos
pouco importa
não me deram inveja mas sim frutos

esses outros estão
aqui

seus poemas
são mentiras aos montes
são verdades piedosas

estão aqui
cercando-me
julgando-me
com as pobres palavras que lhes dei

homens que olham terra e céu
e através da névoa
ou sem seus óculos
também a mim me olham
com o pobre olhar que lhes dei
são outros que estão fora do meu reino
claro
mas também
estou neles

às vezes têm o que nunca tive
às vezes amam o que quis amar
às vezes odeiam o que estou odiando

de repente me parecem distantes
tão remotos
que me dão vertigem e melancolia
e os vejo minados por uma dor sem prantos
e outras vezes    porém
os pressinto tão perto
que olho por seus olhos
e toco por suas mãos
e quando odeiam me junto a seu rancor
e quando amam me achego a sua alegria

quem teria dito
que estes poemas meus iriam ser
de outros

Referência:

BENEDETTI, Mario. Como árboles / Como árvores. Tradução de Julio Luís Gehlen. In: __________. Antologia poética. Tradução de Julio Luís Gehlen. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1988. Em espanhol: p. 176, 178 e 180; em português: p. 177, 179 e 181.

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