Aparentemente, Blaga metaforiza a etapa final da vida – talvez de sua
própria vida –, neste enredo terreno que se conta mediante um livro, cujas
últimas palavras estão por ser gravadas, e a obra cerrada para nela nada mais se
agregar, pois o autor fechará as suas portas, levando consigo as chaves.
É uma poesia transposta por certa sensibilidade metafísica, modelada em forma
de desalento por alguém que, mais à frente, nada contempla a não ser o isolamento
cósmico do ser humano e o devastador império do tempo – esse exterminador de
qualquer pretensão de eternidade!
J.A.R. – H.C.
Lucian Blaga
(1895-1961)
Încheiere
Frate, o boală învinsă ţi se
pare orice carte.
Dar cel ce ţi-a vorbit e în pământ.
E în apă. E în vânt.
Sau mai departe.
Cu foaia această închid porţile şi trag cheile.
Sunt undeva jos sau
undeva sus.
Tu stinge-ţi lumânarea şi-ntreabă-te:
taina trăită unde s-a dus?
Ţi-a mai rămas în urechi vreun cuvânt?
De la basmul sângelui
spus
întoarce-ţi sufletul către perete
şi lacrima către apus.
(1929)
Velho lendo livro
(Alfred P. J. Jeanmougin: pintor francês)
Conclusão
Irmão, julgas todo
livro uma doença finda.
Mas quem te falou
está na terra.
Na água se abriga. No
vento se encerra,
Ou mais longe ainda.
Com esta página fecho
as portas e levo a chave.
Estou acima, abaixo,
ali ou lá.
Tu, apaga a vela e
pergunta, suave:
O mistério vivido
onde está?
Restou-te no ouvido
alguma palavra?
Da lenda do sangue
exposto
Desvia a alma para a
parede
E chora para o sol
posto.
(1929)
Referência:
BLAGA, Lucian. Încheiere / Conclusão.
Tradução de Caetano Waldrigues Galindo. In: __________. A grande travessia. Seleção, tradução e introdução de Caetano
Waldrigues Galindo. Brasília, DF: Editora da UnB, 2005. Em romeno: p. 108; em
português: p. 109. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)
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