Sophia, antevendo o momento de passamento, pressagia uma marcha serena
rumo à comunhão com os elementos da natureza, nesse ciclo de vida e morte que
perdura pela eternidade, como as marés que vão e vêm.
É como se houvesse albergado o princípio nietzschiano do “eterno retorno”:
em meio ao amálgama dos elementos que o viabilizam, a poetisa roga pela
vivência e elucidação de todos os mistérios que envolvem a criação.
J.A.R. – H.C.
Sophia de M. B. Andresen
(1919-2004)
Um dia
Um dia, mortos,
gastos, voltaremos
A viver livres como
os animais
E mesmo tão cansados
floriremos
Irmãos vivos do mar e
dos pinhais.
O vento levará os mil
cansaços
Dos gestos agitados,
irreais
E há-de voltar aos
nossos membros lassos
A leve rapidez dos
animais.
Só então poderemos
caminhar
Através do mistério
que se embala
No verde dos pinhais,
na voz do mar,
E em nós germinará a
sua fala.
Em: “O Dia do Mar” (1947)
O Mar da Tranquilidade
(Thomas Kinkade:
pintor norte-americano)
Referência:
ANDRESEN, Sophia de M. B. Um dia. In:
__________. Obra poética. Lisboa,
PT: Caminho, 2010, p. 123.
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