Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 26 de agosto de 2017

Sophia de Mello Breyner Andresen - Um dia

Sophia, antevendo o momento de passamento, pressagia uma marcha serena rumo à comunhão com os elementos da natureza, nesse ciclo de vida e morte que perdura pela eternidade, como as marés que vão e vêm.

É como se houvesse albergado o princípio nietzschiano do “eterno retorno”: em meio ao amálgama dos elementos que o viabilizam, a poetisa roga pela vivência e elucidação de todos os mistérios que envolvem a criação.

J.A.R. – H.C.

Sophia de M. B. Andresen
(1919-2004)

Um dia

Um dia, mortos, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados, irreais
E há-de voltar aos nossos membros lassos
A leve rapidez dos animais.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais, na voz do mar,
E em nós germinará a sua fala.

Em: “O Dia do Mar” (1947)

O Mar da Tranquilidade
(Thomas Kinkade: pintor norte-americano)

Referência:

ANDRESEN, Sophia de M. B. Um dia. In: __________. Obra poética. Lisboa, PT: Caminho, 2010, p. 123.

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