O homem recria o universo em sua ideias, transforma-o em seus
hipotéticos equívocos, para, sob o seu ponto de vista, aprimorá-lo, como um
anjo que se rebela contra a lei mesma que gerou toda a Criação.
Mas, ao passar da régua nesse balancete que é a vida, reconhece que as
suas ideias são como fluidos voláteis, incapazes de perdurar pela eternidade, permanecendo
neste domínio, quando muito, apenas o que, pela forma, se permite visualizar, sujeita
esta, seja como for, à mesma intercorrência temporal…
J.A.R. – H.C.
Raul de Leoni
(1895-1926)
A Última Canção do Homem
Rei da Criação, por
mim mesmo aclamado.
Quis, vencendo o
Destino, ser o Rei
De todo esse Universo
ilimitado
Das ideias que nunca
alcançarei...
Inteligência... esse
anjo rebelado
Tombou sem ter sabido
a eterna lei:
Pensei demais e,
agora, apenas sei
Que tudo que eu
pensei estava errado...
De tudo, então, ficou
somente em mim
O pavor tenebroso de
pensar.
Porque as ideias
nunca tinham fim...
Que mais resta da
fúria malograda?
Um bailado de frases
a cantar...
A vaidade das
formas... e mais nada...
Segue-me
(Yana Movchan:
artista ucraniana)
Referência:
LEONI, Raul. A última canção do homem.
In: __________. Luz mediterrânea. 9.
ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Fontes, 1959. p. 109.
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