Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 20 de agosto de 2017

Raul de Leoni - A Última Canção do Homem

O homem recria o universo em sua ideias, transforma-o em seus hipotéticos equívocos, para, sob o seu ponto de vista, aprimorá-lo, como um anjo que se rebela contra a lei mesma que gerou toda a Criação.

Mas, ao passar da régua nesse balancete que é a vida, reconhece que as suas ideias são como fluidos voláteis, incapazes de perdurar pela eternidade, permanecendo neste domínio, quando muito, apenas o que, pela forma, se permite visualizar, sujeita esta, seja como for, à mesma intercorrência temporal…

J.A.R. – H.C.

Raul de Leoni
(1895-1926)

A Última Canção do Homem

Rei da Criação, por mim mesmo aclamado.
Quis, vencendo o Destino, ser o Rei
De todo esse Universo ilimitado
Das ideias que nunca alcançarei...

Inteligência... esse anjo rebelado
Tombou sem ter sabido a eterna lei:
Pensei demais e, agora, apenas sei
Que tudo que eu pensei estava errado...

De tudo, então, ficou somente em mim
O pavor tenebroso de pensar.
Porque as ideias nunca tinham fim...

Que mais resta da fúria malograda?
Um bailado de frases a cantar...
A vaidade das formas... e mais nada...

Segue-me
(Yana Movchan: artista ucraniana)

Referência:

LEONI, Raul. A última canção do homem. In: __________. Luz mediterrânea. 9. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Fontes, 1959. p. 109.

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