Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Allen Ginsberg - Meu Amanhecer

Ginsberg descreve neste poema o período em que, dos 22 aos 27 anos, viveu uma vida difícil em Manhattan, trabalhando muito e ganhando pouco, numa rotina de escritório que não tinha nada de gratificante para o espírito humano.

Ao fim, desconsola-se com o fato de que a sua noite de descanso finda, sendo acordado por um incógnito despertador, tendo então que se levantar para reingressar em mais uma jornada diária infeliz, naquilo que define como sendo o próprio “Inferno”.

J.A.R. – H.C.

Allen Ginsberg
(1926-1997)

My Alba (*)

Now that I’ve wasted
five years in Manhattan
life decaying
talent a blank

talking disconnected
patient and mental
sliderule and number
machine on a desk

autographed triplicate
synopis and taxes
obedient prompt
poorly paid

stayed on the market
youth of my twenties
fainted in offices
wept on typewriters

deceived multitudes
in vast conspiracies
deodorant battleships
serious business industry

every six weeks whoever
drank my blood bank
innocent evil now
part of my system

five years unhappy labor
22 to 27 working
not a dime in the bank
to show for it anyway

dawn breaks it’s only the sun
the East smokes O my bedroom
I am damned to Hell what
alarmclock is ringing

New York, 1953

O Poeta Recompensado
(René Magritte: artista belga)

Meu Amanhecer

Agora que desperdicei
cinco anos em Manhattan
a vida colapsando
o talento em branco

desconexa a fala
paciente e mental
régua de cálculo e número
máquina sobre uma mesa

autografei triplicata
breviário e impostos
obediente presto
mal pago

mantive-me no mercado
na juventude de meus vinte anos
desmaiava em escritórios
chorava sobre máquinas de escrever

enganava multidões
em vastas conspirações
desodorante couraçados
indústria negócio sério

a cada seis semanas quaisquer
bebia de meu banco de sangue
inocente pecador agora
parte do meu sistema

cinco anos de trabalho infeliz
dos 22 aos 27 anos labutando
nem um centavo no banco
para de todo modo exibir

o amanhecer desponta e não é mais do que o sol
o Leste fumega Oh meu dormitório
estou condenado ao Inferno qual
despertador que está tocando

Nota:

(*) O título do poema de Ginsberg, ‘My Alba’, combina, como se vê, duas palavras de idiomas distintos, pois ‘alba’ significa ‘alvorada’ ou ‘amanhecer’, em espanhol.

Referência:

GINSBERG, Allen. My Alba. In: __________. Collected poems: 1947-1997. The Green Automobile (1953-1954). New York, NY: HarperCollins Publishers, 2007. p. 97. (First Harper Perennial Modern Classics Edition Published 2007)

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