A poetisa espera ver a felicidade nas coisas simples da vida. E, com a
mesma simplicidade que lhe vai no espírito e na linguagem, expõe as “divinas
bagatelas” capazes de lhe contentar o coração, como palavras brandas que,
soltas despretensiosamente pelo ar, podem a outrem parecer estar impregnadas de amor.
Os versos livres e suavemente musicais transformam-se numa experiência
estética que nos remete às primeiras décadas de nossas vidas, quando nos
contentávamos em apreciar as belezas naturais com o espírito desvestido de
quaisquer axiologias.
J.A.R. – H.C.
Maria Eugênia Celso
(1886-1963)
Conformidade
Não são as grandes
alegrias as mais belas,
As que mais nos
contentam o coração,
São, por vezes –
divinas bagatelas!... –
Aquelas
Que a gente não
espera e que as cousas nos dão.
Um galho que floriu
numa varanda,
Um incêndio de sol
num vidro multicor,
O aroma que o jardim,
como um presente, manda,
Uma carta encontrada,
E essa palavra branda
Que talvez não
quisesse dizer nada,
Onde julgaste ver uma
sombra de amor...
Ornando o chapéu de domingo
(Daniel R. Knight:
pintor norte-americano)
Referência:
CELSO, Maria Eugênia. Conformidade. In:
__________. Alma vária. Porto
Alegre, RS: Livraria do Globo, 1937. p. 46.
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