Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Guilherme de Almeida - Os Lagos

O poeta sonha que a sua alma é um lago, a refletir as alegrias e tristezas que lhe são extrínsecas, como pupila que reverbera o estado dos céus mais acima, ou de outro modo – explicitando a metáfora –, pelo estado de espírito das pessoas que estão à sua volta.

Mas o sujeito lírico reconhece-se “impassível e quieto”, ainda que tais ocorrências possam atingir-lhe de um modo ou de outro. Diz isso porque, em sua relação de amor, percebe alguma amplidão, distância, inconstância e imprecisão.

J.A.R. – H.C.

Guilherme de Almeida
(1890-1969)

Os Lagos

Amo os lagos azuis de alvas águas tranquilas,
Entre os cílios de junco, eles são as pupilas
da terra, olhando o céu de gaze, olhando, no alto,
asas, astros e a clara amplidão de cobalto...

Quando o céu se entristece, o lago é triste; quando
o céu é alegre, o lago alegra-se: e, espelhando
a vida azul do espaço, e pondo luz e cores
na morna prostração das águas incolores,
é um pedaço de céu exilado na terra.
Mas, na órbita de areia e de liquens, que o encerra,
no seu seio, onde vivem seres singulares,
sob o calmo vogar dos brancos nenúfares,
sem reflexos de céu e arrepios de inseto,
o lago é sempre o mesmo: impassível e quieto.

Sob o amplo céu do amor, alto, inconstante e vago;
uma noite eu sonhei que minha alma era um lago...

A Casa do Lago
(Leonid Afremov: pintor israelense)

Referência:

ALMEIDA, Guilherme de. Os lagos. In: __________. Toda a poesia. Tomo II - Messidor. Livro de horas de sóror dolorosa: 1919-1920 - matinas e laudes. São Paulo, SP: Livraria Martins Fontes, nov. 1952. p. 143-144.

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