Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Erich Kästner - A fome é curável

O poeta brinca com coisa séria: a fome. Ela que comumente grassa em períodos de guerra, nos quais muitos vão parar em postos de saúde adaptados e acabam morrendo de um mal que nem diretamente se originou do conflito.

Mas é provável que o poema faça alusão a algum feito do qual tenha decorrido prejuízo à prestação dos cuidados de saúde, na Alemanha ou em outro lugar que se desconhece, em razão de profissionais imperitos ou neófitos em assuntos da espécie.

J.A.R. – H.C.

Erich Kästner
(1899-1974)

Hunger ist heilbar

Es kam ein Mann ins Krankenhaus
und erklärte, ihm sei nicht wohl.
Da schnitten sie ihm den Blinddarm heraus
und wuschen den Mann mit Karbol.

Befragt, ob ihm besser sei, rief er: “Nein.”
Sie machten ihm aber Mut
und amputierten sein linkes Bein
und sagten: “Nun gehts Ihnen gut.”

Der arme Mann hingegen litt
und füllte das Haus mit Geschrei.
Da machten sie ihm den Kaiserschnitt,
um nachzusehen, was denn sei.

Sie waren Meister in ihrem Fach
und schnitten ein ernstes Gesicht.
Er schweig. Er war zum Schreien zu schwach.
Doch sterben tat er noch nicht.

Sein Blut wurde freilich langsam knapp.
Auch litt er an Atemnot.
Sie sägten ihm noch drei Rippen ab.
Dann war er endlich tot.

Der Chefarzt sah die Leiche an.
Da fragt ein Andrer, ein junger:
“Was fehlte denn dem armen Mann?”
Der Chefarzt schluchzte und murmelte dann:
“Ich glaube, er hatte nur Hunger.”

Os famintos e a caça
(Joel Rea: pintor inglês)

A fome é curável

O homem entrou no hospital
e disse: “Não me sinto bem”.
Então, extraem-lhe o apêndice
e lavam-no com formol.

“Sente-se melhor?” Responde: “Não”.
Mas os médicos dão-lhe coragem
e cortam-lhe a perna esquerda,
garantindo: “Agora vai ficar bom”.

Continua a sofrer, no entanto,
e enche de gritos o hospital.
Para descobrir o que pode ser,
praticam-lhe uma cesariana.

Embora doutíssimos no ramo,
os cirurgiões fazem caretas.
Mudo, sem forças para gritar,
ele morrer, não morre não.

Esvai-se-lhe pouco a pouco o sangue,
o ar já lhe vai faltando?
Serram-lhe três costelas,
e finalmente expira.

O cirurgião-chefe contempla o cadáver.
Aí pergunta-lhe um estudante:
“Que coisa tinha esse pobre diabo?”.
O doutor, engasgado, murmura:
“Acho que era apenas fome”.

Referência:

KÄSTNER, Erich. Hunger ist heilbar / A fome é curável. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia traduzida. Organização e notas de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães. Introdução de Júlio Castañon Guimarães. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2011. Em alemão: p. 194 e 196; em português: p. 195 e 197. (Coleção “Ás de colete”; 20)

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