Metalinguística como bem informa Manuel
da Costa Pinto (2006, p. 133), porque tematizadora de sua própria construção –
ao fazer do poema a matéria-prima do próprio poema –, a poesia de Guimarães revela-se
altamente sugestiva, como se quisesse equiparar a sua estética à proposta
pictórica do impressionismo.
Não a massa do poema grafada na página,
mas as manifestações sinestésicas passíveis de apreensão: diríamos que, se
fosse argentino, seria um teórico da poesia mais do que confrade de Alberto
Girri & Companhia (rs)...
J.A.R. – H.C.
Júlio Castañon
Guimarães
(n. 1951)
Elipse
Algumas obras, por
sua fragilidade, não podem ser
expostas à luz
natural. Onde a sintaxe se rarefaz
e subsiste não mais
que por hipóteses de fios. Onde
os traços tendem não
só a conturbar os contornos,
mas a escapar à
possibilidade de percepção
de seu percurso. Tais
torneios elípticos, por assim
dizer, tornam certos
artefatos mais afeitos
a ambientes cujos
limites são tramas, esquivas ou
mesmo impulsos
contidos no movimento que se
nega. Quando cores ou
se esvaem e esbatem mesmo
sugestões de formas
ou, via inversa, se enfatizam
como acúmulo de
matéria, quase deixando supor a
massa do objeto
elidido. Como sons que se
sustentam uns na
virtualidade dos outros, uns
e outros no
contracálculo mesmo do silêncio.
Há obras que, no
limite, só resistem sob lentes,
de fato seus
simulacros, produzidos nos próprios
interstícios da
fábrica.
Em: “Matéria e
Passagem”
O Livro de Descanso
(Vladimir Kush:
pintor russo)
Referência:
GUIMARÃES, Júlio Castañon. Elipse. In:
PINTO, Manuel da Costa (Seleção e organização). Antologia comentada da
poesia brasileira do século 21. São Paulo, SP: Publifolha, 2006. p.
129-130.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário