Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 15 de julho de 2017

Júlio Castañon Guimarães - Elipse

Metalinguística como bem informa Manuel da Costa Pinto (2006, p. 133), porque tematizadora de sua própria construção – ao fazer do poema a matéria-prima do próprio poema –, a poesia de Guimarães revela-se altamente sugestiva, como se quisesse equiparar a sua estética à proposta pictórica do impressionismo.

Não a massa do poema grafada na página, mas as manifestações sinestésicas passíveis de apreensão: diríamos que, se fosse argentino, seria um teórico da poesia mais do que confrade de Alberto Girri & Companhia (rs)...

J.A.R. – H.C.

Júlio Castañon Guimarães
(n. 1951)

Elipse

Algumas obras, por sua fragilidade, não podem ser
expostas à luz natural. Onde a sintaxe se rarefaz
e subsiste não mais que por hipóteses de fios. Onde
os traços tendem não só a conturbar os contornos,
mas a escapar à possibilidade de percepção
de seu percurso. Tais torneios elípticos, por assim
dizer, tornam certos artefatos mais afeitos
a ambientes cujos limites são tramas, esquivas ou
mesmo impulsos contidos no movimento que se
nega. Quando cores ou se esvaem e esbatem mesmo
sugestões de formas ou, via inversa, se enfatizam
como acúmulo de matéria, quase deixando supor a
massa do objeto elidido. Como sons que se
sustentam uns na virtualidade dos outros, uns
e outros no contracálculo mesmo do silêncio.
Há obras que, no limite, só resistem sob lentes,
de fato seus simulacros, produzidos nos próprios
interstícios da fábrica.

Em: “Matéria e Passagem”

O Livro de Descanso
(Vladimir Kush: pintor russo)

Referência:

GUIMARÃES, Júlio Castañon. Elipse. In: PINTO, Manuel da Costa (Seleção e organização). Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo, SP: Publifolha, 2006. p. 129-130.

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