Mais um achado pelas vias de Brasília,
de onde extraí este belo soneto, dentre tantos que constam na obra em
referência, maravilhosamente composta por este cearense de origem, que se
radicou em Brasília, onde veio a se tornar Subprocurador-Geral da República.
Como se costuma dizer, morro e não vejo
tudo: perpassados pelo lastro parnasiano, os poemas de Cêrro Azul revelam um
poeta seguro das técnicas clássicas de criação, a enunciar os seus melhores
argumentos em relação ao amor, às circunstâncias da vida, à natureza e aos seus
vastos mistérios.
J.A.R. – H.C.
Henrique do Cêrro
Azul
(1936-2015)
O Sonho
Gozar a vida? Só por
intermédio
Do sonho. O gozo, no
correr dos dias,
Todas as ilusões e as
alegrias
Tornam-se tema para
um epicédio...
Só o sonho é que
serve de remédio
A tão grandes e
tantas nostalgias,
Pois em meio de
mágoas tão sombrias
Ate o próprio amor
nos causa tédio.
O sonho, não! O sonho
não nos cansa!
Bendita, pois, a
mística esperança
E todo aquele que
consegue tê-Ia...
Pois é o sonho que
faz, bendito engano!
A gota d’água se
julgar oceano
E o pirilampo se
julgar estrela.
O sonho
(Pablo Picasso:
artista espanhol)
Elucidário:
Epicédio: Discurso ou poema recitado em
memória de pessoa notável.
Referência:
AZUL, Henrique do Cêrro. O sonho. In:
__________. Sonetos e poemas. Brasília, DF: Ebrasa - Editora de Brasília
S.A., 1967. p. 56.
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