Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Georg Trakl - Canto do desterrado

Com toda a sua aura obscura, carregada de tons frementes e às vezes insólitos – algo tão característico de grande parte das criações do expressionismo em língua alemã –, Trakl sabe como arranjar as palavras para formar um conjunto caleidoscópico de símbolos em sua perspectiva dos desterrados, conferindo um melancólico efeito.

Por trás de seu manifesto verniz enigmático, o poema deixa transparecer a visão de um poeta que experimenta contratempos em um mundo envelhecido, do qual muitos foram sacados ou partiram para nunca mais voltar, mas que ainda é capaz de revelar laivos de harmonia e de beleza, apontando para o futuro.

J.A.R. – H.C.

Georg Trakl
(1887-1914)

Gesang des Abgeschiedenen
An Karl Borromäus Heinrich
(1914)

Voll Harmonien ist der Flug der Vögel. Es haben die grünen Wälder
Am Abend sich zu stilleren Hütten versammelt;
Die kristallenen Weiden des Rehs.
Dunkles besänftigt des Plätschern des Bachs, die feuchten Schatten

Und die Blumen des Sommers, die schön in Winde läuten.
Schon dämmert die Stirne dem sinnenden Menschen.  

Und es leuchtet ein Lämpchen, das Gute, in seinem Herzen
Und der Frieden des Mahls; denn geheiligt ist Brot und Wein
Von Gottes Händen, und es schaut aus nächtigen Augen
Stille dich der Bruder an, daß er ruhe von dorniger Wanderschaft.
O das Wohnen in der beseelten Bläue der Nacht.

Liebend auch umfängt das Schweigen im Zimmer die Schatten
der Alten,
Die purpurnen Martern, Klage eines großen Geschlechts,
Das fromm nun hingeht im einsamen Enkel.

Denn strahlender immer erwacht aus schwarzen Minuten
des Wahnsinns
Der Duldende an versteinerter Schwelle
Und es umfängt ihn gewaltig die kühle Bläue und dieleuchtende
Neige des Herbstes,

Das stille Haus und die Sagen des Waldes,
Maß und Gesetz und die mondenen Pfade der Abgeschiedenen.

Exilados
(Patrick Hennessy: pintor irlandês)

Canto do desterrado
A Karl Borromäus Heinrich
(1914)

Pleno de harmonias é o voo dos pássaros. As florestas verdes
Reuniram-se à noite em cabanas mais tranquilas;
Os pastos cristalinos da corça.
Escuridão suaviza o murmúrio do riacho, as sombras úmidas

E as flores do verão, que soam belas ao vento.
Já crepuscula na fronte do pensativo homem.

E brilha uma luzinha, a da bondade, em seu coração,
E a paz da ceia; pois, santificados são pão e vinho
Pelas mãos de Deus, e com olhos noturnos o irmão
Contempla-te silencioso, repousando de espinhosa caminhada.
Ah, morar no vivo azul da noite.

Também amando o silêncio envolve no quarto as sombras dos
ancestrais,
Os purpúreos martírios, lamento de toda uma geração,
Que agora se vai piedosa no neto solitário.

Cada vez mais radiante desperta sempre dos negros minutos
de loucura
O paciente em soleira petrificada
E envolve-o violentamente o frescor azulado e o cintilante resto
do outono,

A casa tranquila e as lendas da floresta,
Medida e lei, e os lunares atalhos dos desterrados.

Referência:

TRAKL, Georg. Gesang des abgeschiedenen / Canção do desterrado.Tradução de Claudia Cavalcanti. In: BECHER, Johannes R. et al. Poesia expressionista alemã: uma antologia. Organização e tradução de Claudia Cavalcanti. Edição bilíngue ilustrada. São Paulo, SP: Estação Liberdade, 2000. Em alemão: p. 208; em português: p. 209.

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