Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 29 de julho de 2017

Patrick Kavanagh - Lembrança de Meu Pai

Mais um poeta desamparado pela perda de um ente querido (rs): o irlandês Kavanagh caminha pelos logradouros da cidade, e em todos os homens de idade avançada vê a figura de seu próprio pai, já ausente.

É um estado mental que revela a não assimilação completa do fenômeno da perda, a morte como experiência capaz de provocar ranhuras indeléveis no espírito de quem ficou: faz ou não lembrar o eloquente exemplo da letra de “Canção da América” (1980), de Milton Nascimento e Fernando Brant?!

J.A.R. – H.C.

Patrick Kavanagh
(1904-1967)

Memory of My Father

Every old man I see
Reminds me of my father
When he had fallen in love with death
One time when sheaves were gathered.

That man I saw in Gardiner Street
Stumble on the kerb was one,
He stared at me half-eyed,
I might have been his son.

And I remember the musician
Faltering over his fiddle
In Bayswater, London,
He too set me the riddle.

Every old man I see
In October-coloured weather
Seems to say to me:
“I was once your father”.

Ancião com uma corrente de ouro
(Rembrandt: pintor holandês)

Lembrança de Meu Pai

Cada velho que vejo
Faz-me lembrar de meu pai
Quando se afeiçoou pela morte
Certa vez quando se recolhiam as gavelas.

Aquele homem que vi em Gardner Street
A tropeçar no meio-fio era um deles,
Olhou-me com olhos semicerrados;
Eu poderia ter sido seu filho.

E me recordo do músico
Vacilante sobre o seu violino
Em Bayswater, Londres;
Ele também me impôs o enigma.

Cada velho que vejo
No tempo colorido de outubro
Parece me dizer:
“Uma vez já fui seu pai”.

Canção da América
Álbum: Sentinela (1980)
(Milton Nascimento e Fernando Brant)

Referência:

KAVANAGH, Patrick. Memory of my father. In: BENSON, Gerard; CHERNAIK, Judith; HERBERT, Cicely (Eds.). Best ‎‎poems on the underground. 1st. publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, ‎‎2009. p. 146.

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