Mais um poeta desamparado pela perda de
um ente querido (rs): o irlandês Kavanagh caminha pelos logradouros da cidade, e
em todos os homens de idade avançada vê a figura de seu próprio pai, já
ausente.
É um estado mental que revela a não
assimilação completa do fenômeno da perda, a morte como experiência capaz de
provocar ranhuras indeléveis no espírito de quem ficou: faz ou não lembrar o eloquente
exemplo da letra de “Canção da América” (1980), de Milton Nascimento e Fernando
Brant?!
J.A.R. – H.C.
Patrick Kavanagh
(1904-1967)
Memory of My Father
Every old man I see
Reminds me of my
father
When he had fallen in
love with death
One time when sheaves
were gathered.
That man I saw in
Gardiner Street
Stumble on the kerb
was one,
He stared at me
half-eyed,
I might have been his
son.
And I remember the
musician
Faltering over his
fiddle
In Bayswater, London,
He too set me the
riddle.
Every old man I see
In October-coloured
weather
Seems to say to me:
“I was once your
father”.
Ancião com uma
corrente de ouro
(Rembrandt: pintor
holandês)
Lembrança de Meu Pai
Cada velho que vejo
Faz-me lembrar de meu
pai
Quando se afeiçoou
pela morte
Certa vez quando se
recolhiam as gavelas.
Aquele homem que vi
em Gardner Street
A tropeçar no
meio-fio era um deles,
Olhou-me com olhos
semicerrados;
Eu poderia ter sido
seu filho.
E me recordo do
músico
Vacilante sobre o seu
violino
Em Bayswater,
Londres;
Ele também me impôs o
enigma.
Cada velho que vejo
No tempo colorido de
outubro
Parece me dizer:
“Uma vez já fui seu
pai”.
Canção da América
Álbum: Sentinela (1980)
(Milton Nascimento e
Fernando Brant)
Referência:
KAVANAGH, Patrick. Memory of my father.
In: BENSON, Gerard; CHERNAIK, Judith; HERBERT, Cicely (Eds.). Best poems on the
underground. 1st. publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, 2009. p. 146.
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