Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 23 de julho de 2017

Ellen Bryant Voigt - O Campo de Inverno

Em meio a um campo no inverno – onde reina a ausência quase absoluta de pessoas, dificultando a obtenção de auxílio –, a poetisa viu-se perdida, talvez submersa em águas geladas de um rio ou lago, e mal sentia o corpo entorpecido pelo frio, quando de lá foi resgatada, ou melhor, “fisgada”, e enrolada em cobertores até um lugar seguro.

Num passeio sobre esquis, no espaço entre o sanatório e a planície, Hans Castorp também se viu em momentos de apuro, quando a queda de neve se acirrou e ele teve de se valer de um abrigo improvisado num entreposto: tal episódio encontra-se narrado em um dos mais significativos capítulos de “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann, denominado “Neve”. Confirme lá, internauta, se este poema não nos leva a associá-lo àquele incidente!

J.A.R. – H.C.

Ellen Bryant Voigt
(n. 1943)

Winter Field

The winter field is not
the field of summer lost in snow: it is
another thing, a different thing.

“We shouted, we shook you”, you tell me,
but there was no sound, no face, no fear, only
oblivion – why shouldn’t it be so?

After they’d pierced a vein and fished me up,
after they’d reeled me back they packed me under
blanket on top of blanket, I trembled so.

The summer field, sun-fed, mutable,
has its many tasks; the winter field
becomes its adjective.
For those hours
I was some other thing, and my body,
which you have long loved well,
did not love you.

Campo coberto de neve com grade
(Vincent van Gogh: pintor holandês)

O Campo de Inverno

O campo de inverno não é
o campo de verão esquecido sob a neve: é uma
outra coisa, uma coisa diferente.

“Nós gritamos, sacudimos você”, você me diz,
mas não havia som, nem rosto, nem medo, somente
ausência – por que não haveria de ser assim?

Depois de eles perfurarem uma veia e me fisgarem,
Depois de me terem feito tombar para trás, acomodaram-me
em baixo de cobertor sobre cobertor, tanto que eu tremia.

O campo de verão, nutrido pelo sol, mutável,
tem os seus muitos afazeres; o campo de inverno
converte-se em seu adjetivo.
Por essas horas,
eu era outra coisa, e meu corpo,
que muito tens amado por tanto tempo,
não te amava.

Referência:

VOIGT, Ellen Bryant. Winter field. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary ‎‎american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of ‎‎Random House Inc.), march 2003. p. 529.

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