Em meio a um campo no inverno – onde
reina a ausência quase absoluta de pessoas, dificultando a obtenção de auxílio –,
a poetisa viu-se perdida, talvez submersa em águas geladas de um rio ou lago, e
mal sentia o corpo entorpecido pelo frio, quando de lá foi resgatada, ou
melhor, “fisgada”, e enrolada em cobertores até um lugar seguro.
Num passeio sobre esquis, no espaço
entre o sanatório e a planície, Hans Castorp também se viu em momentos de
apuro, quando a queda de neve se acirrou e ele teve de se valer de um abrigo
improvisado num entreposto: tal episódio encontra-se narrado em um dos mais
significativos capítulos de “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann, denominado “Neve”.
Confirme lá, internauta, se este poema não nos leva a associá-lo àquele
incidente!
J.A.R. – H.C.
Ellen Bryant Voigt
(n. 1943)
Winter Field
The winter field is
not
the field of summer
lost in snow: it is
another thing, a
different thing.
“We shouted, we shook
you”, you tell me,
but there was no
sound, no face, no fear, only
oblivion – why
shouldn’t it be so?
After they’d pierced
a vein and fished me up,
after they’d reeled
me back they packed me under
blanket on top of
blanket, I trembled so.
The summer field,
sun-fed, mutable,
has its many tasks;
the winter field
becomes its
adjective.
For those hours
I was some other
thing, and my body,
which you have long
loved well,
did not love you.
Campo coberto de neve
com grade
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
O Campo de Inverno
O campo de inverno
não é
o campo de verão
esquecido sob a neve: é uma
outra coisa, uma
coisa diferente.
“Nós gritamos,
sacudimos você”, você me diz,
mas não havia som,
nem rosto, nem medo, somente
ausência – por que
não haveria de ser assim?
Depois de eles
perfurarem uma veia e me fisgarem,
Depois de me terem
feito tombar para trás, acomodaram-me
em baixo de cobertor
sobre cobertor, tanto que eu tremia.
O campo de verão,
nutrido pelo sol, mutável,
tem os seus muitos
afazeres; o campo de inverno
converte-se em seu
adjetivo.
Por essas horas,
eu era outra coisa, e
meu corpo,
que muito tens amado
por tanto tempo,
não te amava.
Referência:
VOIGT, Ellen Bryant. Winter field. In:
McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York,
NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 529.
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