Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 8 de julho de 2017

Robert Lowell - História

A evidenciar a mirada a partir da qual Lowell interpreta a História, em sua inexorável fluência e influência, este poema explicita-se por meio de noções imagísticas: a História como uma coisa viva, com potencial para “agarrar” e “remexer” a realidade.

Um olhar menos detido sobre o aspecto gráfico do poema não permite identificá-lo de imediato como um soneto, embora o seja. Nesse plano, muito tem a ver com a forma empregada por Lowell para redigir a sua obra, enigmática e confessional por natureza, sondando os meandros recônditos da alma, ao mesmo tempo que envolta pelas demandas históricas.

J.A.R. – H.C.

Robert Lowell
(1917-1977)

History

History has to live with what was here,
clutching and close to fumbling all we had –
it is so dull and gruesome how we die,
unlike writing, life never finishes.
Abel was finished; death is not remote,
a flash-in-the-pan electrifies the skeptic,
his cows crowding like skulls against high-voltage wire,
his baby crying all night like a new machine.
As in our Bibles, white-faced, predatory,
the beautiful, mist-drunken hunter’s moon ascends –
a child could give it a face: two holes, two holes,
my eyes, my mouth, between them a skull’s no-nose –
O there’s a terrifying innocence in my face
drenched with the silver salvage of the mornfrost.

Alegoria da História
(José de Ribera: pintor espanhol)

História

A História tem de viver com o que aqui esteve,
agarrando e remexendo tudo o que tínhamos –
é tão sombria e grotesca a nossa forma de morrer,
diferentemente da escrita, a vida nunca finda.
Abel findou-se; a morte não é algo remoto,
um fato transitório eletriza o cético,
suas vacas amontoam-se como caveiras contra os cabos
de alta voltagem,
seu bebê a chorar a noite toda como uma máquina nova.
Tal como em nossas Bíblias, de tez branca, predatória,
a airosa lua do caçador embriagado assoma –
uma criança poderia dar-lhe um rosto: dois orifícios, dois orifícios,
meus olhos, minha boca, entre eles um crânio sem nariz –
Oh! Há uma inocência aterrorizante em minha face
umedecida com o prateado subtraído à geada matinal.

Referência:

LOWELL, Robert. History. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 18.

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