Morgan, poeta escocês, emite críticas à
forma como os norte-americanos levaram ao espaço, no interior da sonda
interplanetária Pioneer-10, em meados de março de 1972, uma placa contendo informações
da presença da espécie humana sobre o planeta Terra (vide abaixo).
Parece-lhe que a mensagem subliminar
que emana da referida placa é que a mulher é um “tipo inferior da mesma espécie”,
e somente o fato de ela estar sorrindo levemente, e o “americano desodorizado” ao
seu lado ter uma expressão grave, poderia induzir algum trabalho às potenciais inteligências
interplanetárias, destinatárias finais da precitada notícia.
J.A.R. – H.C.
Edwin Morgan
(1920-2010)
Translunar Space March 1972
The interior of
Pioneer-10,
as it courses smoothly
beyond the Moon
at 31,000 miles an hour,
is calm and full of
instruments.
No crew for the two-year
trip to Jupiter,
but in the middle of the
picture
a gold plaque, six inches
by nine,
remedies the omission.
Against a diagram
of the planets and
pulsars of our solar system and galaxy,
and superimposed on an
outline of the spacecraft
in which they are not
travelling
(and would not be as they
are shown
even if they were) two
quaint nude figures
face the camera. A
deodorized American man
with apologetic genitals
and no pubic hair
holds up a banana-like
right hand
in Indian greeting, at
his side a woman,
smaller, and also with no
pubic hair,
is not allowed to hold up
her hand,
stands with one leg
off-centre, and
is obviously an inferior
sort
of the same species. However,
the male chauvinist pig
has a sullen expression,
and the woman
is faintly smiling, so
interplanetary
intelligences may still have homework.
Meanwhile, on to the Red
Spot,
Pluto, and eternity.
Placa fixada na Pioneer-10
Espaço Translunar Março
de 1972
O interior da
Pioneer-10,
a 31.000 milhas por
hora,
é calmo e cheio de
instrumentos.
Sem tripulação para a
viagem de dois anos até Júpiter,
mas no meio do
cenário
uma placa de ouro, de
seis por nove polegadas,
remedia a omissão.
Contra um diagrama
de planetas e
pulsares do nosso sistema solar e galáxia,
e sobrepostas num
contorno da nave espacial
na qual não estão
viajando
(e não estariam como
parecem
mesmo que estivessem)
dois bizarros vultos nus
olham para a câmera.
Um americano desodorizado
com genitais
apologéticos e sem pelos púbicos
ergue a mão direita
como uma banana
numa saudação
indiana, do seu lado uma mulher,
menor, e também sem
pelos púbicos,
é proibida de
levantar sua mão,
fica em pé com uma
perna afastada, e
obviamente é um tipo
inferior
da mesma espécie.
Entretanto,
o porco chauvinista
tem uma expressão
grave, e a mulher
está sorrindo
vagamente, assim
inteligências
interplanetárias podem ainda ter trabalho.
Por enquanto, para
frente rumo a Mancha Vermelha,
Plutão, e eternidade.
Referência:
MORGAN, Edwin. Translunar space march
1972 / Espaço translunar março de 1972. Tradução de Virna Vieira.In:
__________. Na estação central.
Seleção, tradução e introdução de Virna Vieira. Brasília, DF: Editora da UnB,
2006. Em inglês: 86 e 88; em português: 87 e 89. (Coleção “Poetas do Mundo”)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário