De um jornalista e advogado
pernambucano, cujas menções na internet são raras, trazemos este poema
sarcástico que, ante o título que lhe foi atribuído – “Lira do Reacionário” –,
bem poderia ser renomeado para “Lira do Coxinha”, de modo a atualizar os termos
ao momento político ora vivenciado neste Pindorama (rs).
Afinal, o que pretendem os vendedores
de amendoim ou balas, ou mesmo o engraxate? De onde o reacionário conclui: “os
adolescentes costumam sonhar demais, principalmente os menores abandonados”.
Que mente deturpada: decerto jamais terá ouvido falar em “desigualdade de
oportunidades”!
J.A.R. – H.C.
Garoto Pobre
(Ken Hendricksen:
pintor norte-americano)
Lira do Reacionário
Que quer afinal o
vendedor de amendoim,
além de vender o seu
amendoim?
Será que ele deseja
ir à Disneylândia,
em viagem paga à
vista,
com direito a carro
no aeroporto,
hotel de cinco
estrelas,
e uma loura divina
na recepção?
Que deseja o vendedor
de balas,
além de melhorar a
féria do dia?
Será que ele pretende
viajar num Concorde
acompanhado daquela
assistente social
que freqüentou seus
sonhos,
no dormitório do
internato?
Que diabo imagina o
engraxate,
além de meter um
brilho
no pisante do
freguês?
Será que ele espera
passar fim de semana
em Cabo Frio,
dar uma olhada nas
coxas das gatinhas,
(de perto, é claro)
e transformar a caixa
de engraxate
num conversível
vermelho,
para encantar a
fantasia das garotas?
A verdade é que os
adolescentes costumam sonhar demais,
principalmente os
menores abandonados.
O Engraxate
(John George Brown:
artista anglo-americano)
Referência:
TEIXEIRA, Wagner. Lira do reacionário.
In: __________. Passatempo: poesias.
São Paulo, SP: Alhambra, 1996. p. 33.
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