Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 2 de julho de 2017

Theodore Roethke - Num Tempo Escuro

A empregar a metáfora do tempo climatológico para eventos que, de fato, remontam à sua própria realidade psíquica, Roethke leva-nos a crer que o mundo natural não é um lugar amistoso, mas sim um indicativo de loucura, ou melhor, enquanto realidade externa, a natureza acaba por refletir a vívida e íntima turbulência do poeta.

Sofrendo Roethke, como sofria, de eventuais crises de psicose, pode-se ler o poema como uma tentativa de o autor alçar o próprio espírito do desespero à esperança, mesmo que não vislumbre chances imediatas de a “mosca”, rompendo o círculo alucinado ao peitoril da janela, avançar em direção às fronteiras de seus mais espontâneos intentos!

J.A.R. – H.C.

Theodore Roethke
(1908-1963)

In a Dark Time

In a dark time, the eye begins to see,
I meet my shadow in the deepening shade;
I hear my echo in the echoing wood
A lord of nature weeping to a tree.
I live between the heron and the wren,
Beasts of the hill and serpents of the den.

What’s madness but nobility of soul
At odds with circumstances? The day's on fire!
I know the purity of pure despair,
My shadow pinned against a sweating wall.
That place among the rocks is it a cave,
Or winding path? The edge is what I have.

A steady storm of correspondences!
A night flowing with birds, a ragged moon,
And in broad day the midnight come again!
A man goes far to find out what he is
Death of the self in a long, tearless night,
All natural shapes blazing unnatural light.

Dark, dark my light, and darker my desire.
My soul, like some heat-maddened summer fly,
Keeps buzzing at the sill. Which I is I?
A fallen man, I climb out of my fear.
The mind enters itself, and God the mind,
And one is One, free in the tearing wind.

No Topo da Colina
(Carl Spitzweg: pintor e poeta alemão)

Num Tempo Escuro

Num tempo escuro, o olho começa a enxergar,
Encontro-me com minha sombra na escuridão que se acentua;
Ouço meu eco no bosque reverberante –
Um senhor da natureza pranteando a uma árvore.
Vivo entre a garça e a carriça,
As bestas da colina e as serpentens da gruta.

O que é a loucura senão a nobreza da alma
Em desacordo com as circunstâncias? O dia está em chamas!
Conheço a pureza da pura desesperança,
Minha sombra fixada num muro ressumado.
Aquele lugar entre as rochas – é uma caverna,
Ou um caminho sinuoso? O limite é o que tenho.

Uma constante tormenta de correspondências!
Uma noite a fluir com os pássaros, uma lua rota,
E em pleno dia, a meia-noite que volta!
Um homem se afasta para inteirar-se do que ele é
A morte do ser numa noite longa e sem lágrimas,
Todas as formas naturais refulgindo a luz antinatural.

Escura, escura é minha luz, e mais escuro o meu desejo.
Minha alma, como uma mosca de verão alucinada pelo calor,
Mantém-se zumbindo no peitoril da janela. Qual eu sou seu?
Enquanto homem derribado, escapo por sobre o meu medo.
A mente entra em si mesma e, na mente, Deus.
E cada qual é único, livre frente ao vento impetuoso.

Referência:

ROETHKE, Theodore. In a dark time. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary ‎‎american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of ‎‎Random House Inc.), march 2003. p. 46.

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