A empregar a metáfora do tempo
climatológico para eventos que, de fato, remontam à sua própria realidade
psíquica, Roethke leva-nos a crer que o mundo natural não é um lugar amistoso,
mas sim um indicativo de loucura, ou melhor, enquanto realidade externa, a
natureza acaba por refletir a vívida e íntima turbulência do poeta.
Sofrendo Roethke, como sofria, de
eventuais crises de psicose, pode-se ler o poema como uma tentativa de o autor
alçar o próprio espírito do desespero à esperança, mesmo que não vislumbre
chances imediatas de a “mosca”, rompendo o círculo alucinado ao peitoril da
janela, avançar em direção às fronteiras de seus mais espontâneos intentos!
J.A.R. – H.C.
Theodore Roethke
In a Dark Time
In a dark time, the eye begins to see,
I meet my shadow in the deepening shade;
I hear my echo in the echoing wood –
A lord of nature weeping to a tree.
I live between the heron and the wren,
Beasts of the hill and serpents of the den.
What’s madness but nobility of soul
At odds with circumstances? The day's on fire!
I know the purity of pure despair,
My shadow pinned against a sweating wall.
That place among the rocks – is it a cave,
Or winding path? The edge is what I have.
A steady storm of correspondences!
A night flowing with birds, a ragged moon,
And in broad day the midnight come again!
A man goes far to find out what he is –
Death of the self in a long, tearless night,
All natural shapes blazing unnatural light.
Dark, dark my light, and darker my desire.
My soul, like some heat-maddened summer fly,
Keeps buzzing at the sill. Which I is I?
A fallen man, I climb out of my fear.
The mind enters itself, and God the mind,
And one is One, free in the tearing wind.
No Topo da Colina
(Carl Spitzweg: pintor e poeta alemão)
Num Tempo Escuro
Num tempo escuro, o olho começa a enxergar,
Encontro-me com minha sombra na escuridão que se
acentua;
Ouço meu eco no bosque reverberante –
Um senhor da natureza pranteando a uma árvore.
Vivo entre a garça e a carriça,
As bestas da colina e as serpentens da gruta.
O que é a loucura senão a nobreza da alma
Em desacordo com as circunstâncias? O dia está em
chamas!
Conheço a pureza da pura desesperança,
Minha sombra fixada num muro ressumado.
Aquele lugar entre as rochas – é uma caverna,
Ou um caminho sinuoso? O limite é o que tenho.
Uma constante tormenta de correspondências!
Uma noite a fluir com os pássaros, uma lua rota,
E em pleno dia, a meia-noite que volta!
Um homem se afasta para inteirar-se do que ele é –
A morte do ser numa
noite longa e sem lágrimas,
Todas as formas
naturais refulgindo a luz antinatural.
Escura, escura é
minha luz, e mais escuro o meu desejo.
Minha alma, como uma
mosca de verão alucinada pelo calor,
Mantém-se zumbindo no
peitoril da janela. Qual eu sou seu?
Enquanto homem derribado,
escapo por sobre o meu medo.
A mente entra em si
mesma e, na mente, Deus.
E cada qual é único,
livre frente ao vento impetuoso.
Referência:
ROETHKE, Theodore. In a dark time. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The
vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New
York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 46.
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