Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Wisława Szymborska - De uma expedição não realizada ao Himalaia

Com linguagem espontânea, meio casual, incidente sobre as peculiaridades e as circunstâncias da vida, Szymborska sabe extrair dali o pó entesourado, mesmo que tudo esteja envolto em confusão ou desordem: “Herdamos a esperança –o dom de esquecer.Você vai ver como damos à luz em meio a ruínas”.

Trata-se de uma expedição simbólica ao Himalaia, não acontecida de fato, mas metaforizada pelos embates que nos levam a fazer um esforço de superação dos estados opressivos pelos quais passamos, matéria de informe a um presumível ouvinte não-humano, nesta que é, sem dúvida, uma criação hipotética, alternativa, cheia de imaginação, forma ideal empregada pela poetisa para destilar o seu talento e ironia.

J.A.R. – H.C.

Wisława Szymborska
(1923-2012)

Z nieodbytej wyprawy w Himalaje

Aha, więc to są Himalaje.
Góry w biegu jak księżyc.
Chwila startu utrwalona
na rozprutym nagle niebie.
Pustynia chmur przebita.
Uderzenie w nic.
Echo – biała niemowa.
Cisza.

Yeti, niżej jest środa,
abecadło, chleb
i dwa a dwa to cztery,
i topnieje śnieg.
Jest czerwone jabłuszko
przekrojone na krzyż.

Yeti, nie tylko zbrodnie
są u nas możliwe.
Yeti, nie wszystkie słowa
skazują na śmierć.

Dziedziczymy nadzieję
dar zapominania.
Zobaczysz, jak rodzimy
dzieci na ruinach.

Yeti, Szekspira mamy.
Yeti, na skrzypcach gramy.
Yeti, o zmroku
zapalamy światło.

Tu – ni księżyc, ni ziemia
i łzy zamarzają.
O Yeti Półtwardowski
zastanów się, wróć!

Tak w czterech ścianach lawin
wołam do Yeti
przytupując dla rozgrzewki
na śniegu
wiecznym.

Jornada ao Himalaia
(Karma Loday: artista do Butão)

De uma expedição não realizada ao Himalaia

Ah, então este é o Himalaia.
Montanhas correndo para a lua.
O instante da largada fixado
no rasgar súbito do céu.
Deserto de nuvens perfurado.
Um golpe no nada.
Eco – uma branca mudez.
Silêncio.

Yeti, lá embaixo é quarta-feira
tem abecedário, pão
e dois e dois são quatro
e a neve derrete.
Tem rosa amarela,
tão formosa, tão bela.

Yeti, nem só crimes
acontecem entre nós.
Yeti, nem todas as palavras
condenam à morte.

Herdamos a esperança –
o dom de esquecer.
Você vai ver como damos
à luz em meio a ruínas.

Yeti, temos Shakespeare lá,
Yeti, e violinos para tocar.
Yeti, ao cair a noite
acendemos a luz.

Aqui – nem lua nem terra
e a lágrima congela.
Ó Yeti meio lunar
pense, volte!

Entre as quatro paredes da avalanche
assim eu chamava pelo Yeti
batendo os pés para me aquecer
na neve
na eterna.

Referência:

SZYMBORSKA, Wisława. De uma expedição não realizada ao Himalaia. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Um amor feliz. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. 1. ed. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2016. Em polonês: p. 54 e 56; em português: p. 55 e 57.

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