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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Victor Hugo - Deus sonha

Em busca do original em francês deste poema, vertido ao português pelo poeta brasileiro Raimundo Correia, não logrei êxito, mesmo empreendendo consulta em diversas fontes livrescas e documentais, ou mesmo na galáxia da internet.

Pode ser, presumo, que Raimundo Correia tenha condensado, em um texto à parte, imagens, ideias, sentimentos, emoções e pensamentos que povoam as páginas cheias de vocativos e metáforas do autor francês.

Seja como for, ocorrendo ou não tal hipótese, o resultado final é exuberante. E exuberante tanto no vocabulário plástico e inusitado, quanto no primor do arranjo das rimas e do ritmo equilibrado dos versos decassílabos. O que pensa, você, internauta?!

J.A.R. – H.C.

Victor Hugo
(1802-1885)

Deus sonha

O dia acorda! Deus por uma fresta
Das nuvens a espreitar, ri-se. A floresta,
O campo, o inseto, o ninho sussurrante,
A aldeia, o sol que tinge a serrania...
Tudo isso acorda, quando acorda o dia
No fresco banho de ouro do Levante.

Deus sonha! Vaza os olhos d’água; pica
As artérias da terra; o lis fabrica;
E da matéria sonda o fundo ovário;
Pinta as rosas de branco e de vermelho,
E faz das asas vis do escaravelho
A surpresa do mundo planetário.

Homens! As férreas naus de velas largas,
Monstros revéis, formidolosas cargas
Do bruto oceano arfando às insolências;
Extenuados os ventos, e nos flancos
Longo enxame a arrastar de flocos brancos
De escuma, e raios e fosforescências...

Os estandartes de arrogantes pregas,
As batalhas, os choques, as refregas;
Náuseas de fogo de canhões sangrentos;
Feroz carnificina de ferozes
Batalhões – bando negro de albatrozes
De asa espalmada e aberta aos quatro ventos...

Comburentes, flamívomas bombardas,
Ígnea selva de canos de espingardas,
Estampidos, estrépitos, clangores,
E, bêbado de pólvora e fumaça,
Napoleão, que, galopando, passa,
Ao ruflar de frenéticos tambores;

A guerra, o saque, as convulsões, o espanto;
Sebastopol em chamas; de Lepanto
O vau de lanças e clarins repleto...
Homens! Tudo isso, enquanto recolhido
Deus sonha, passa e soa-lhe ao ouvido,
Como o rumor das asas de um inseto!

(Fevereiro, 1883)

A Batalha de Sebastopol:
seção central do tríptico
(Jean-Charles Langlois: pintor francês)

Referência:

HUGO, Victor. Deus sonha. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Tradução de Raimundo Correia. Obras-primas da poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957. p. 42-43.

2 comentários:

  1. Bom dia
    Saúde e paz

    https://www.lecoindesmots.com/le-poeme_ecrit-sur-le-tombeau_victor-hugo_1967.html

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  2. Prezado(a): igualmente para você. J. A. Rodrigues

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