Machado tece loas ao seu ‘Cognac’ que, em companhia do ‘Dom Quixote’, é
passatempo adorável para qualquer amante da literatura – e não apenas para o
finíssimo autor carioca –, em especial quanto ao poder que teria o seu ardor
para despertar inspiração.
E há uma gradação, segundo o autor, para o resultado que a bebida seria
capaz de produzir: se apenas um trago, inspira um verso; se um copo cheio, o
mais sonoro canto; se todo um frasco, um poema completo – claro está, se antes não se houver degringolado pelo efeito do álcool! (rs)
J.A.R. – H.C.
Machado de Assis
(1839-1908)
Cognac!...
Vem, meu Cognac, meu licor d’amores!...
É longo o sono teu
dentro do frasco;
Do teu ardor a
inspiração brotando
O cérebro
incendeia!...
Da vida a insipidez
gostoso adoças;
Mais val um trago teu
que mil grandezas;
Suave distração – da
vida esmalte,
Quem há que te não
ame?
Tomado com o café em
fresca tarde
Derramas tanto ardor
pelas entranhas,
Que o já provecto
renascer-lhe sente
Da mocidade o fogo!
Cognac! – inspirador de
ledos sonhos,
Excitante licor – de
amor ardente!
Uma tua garrafa e o
Dom Quixote,
É passatempo amável!
Que poeta que sou com
teu auxílio!
Somente um trago teu
m’inspira um verso;
O copo cheio o mais
sonoro canto;
Todo o frasco um
poema!
(12 abr. 1856)
De: “Outros Poemas”
Natureza-Morta
(Gerrit Van Vucht:
pintor holandês)
Referência:
ASSIS, Machado de. O Almada & Outros poemas: poesias. São Paulo, SP: Globo, 1997.
p. 84-85. (Obras Completas de Machado de Assis)
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Lindo blog! Apenas constatei um erro na data de nascimento do autor que foi 1839 e não 1893.
ResponderExcluirMuitíssimo grato pela observação e pelo elogio, Márcia: houvesse nascido em 1893, Machado não teria passado dos quinze anos no momento de seu falecimento!
ResponderExcluirPenso que, quando me encontrava a redigir a postagem, talvez estivesse sob o efeito de alguma bebida (rs). Ou não, como diria o Caetano: pode ter sido mero "efeito paralaxe". Brincadeira...
Um grande abraço,
João A. Rodrigues