Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 11 de julho de 2017

Charles Simic - Prodígio

Se este poema for autobiográfico – como parece mesmo ser –, Simic aprendeu os primeiros passos no jogo de xadrez por volta dos seis anos, bem novo, portanto. E compreendeu que, tal como numa partida de xadrez, a guerra é uma disputa que tem as suas manobras fatais, seus xeques-mates.

E se os mais brilhantes jogadores são capazes de jogar com os olhos vendados – ouvindo apenas a narrativa dos movimentos das peças sobre o tabuleiro, é claro! –, isso demonstra que a memória, os padrões de raciocínio e mesmo os instintos também são bastante importantes para se obter êxito na vida.

J.A.R. – H.C.

Charles Simic
(n. 1938)

Prodigy

I grew up bent over
a chessboard.

I loved the word endgame.

All my cousins looked worried.

It was a small house
near a Roman graveyard.
Planes and tanks
shook its windowpanes.

A retired professor of astronomy
taught me how to play.

That must have been in 1944.

In the set we were using,
the paint had almost chipped off
the black pieces.

The white King was missing
and had to be substituted for.

I’m told but do not believe
that that summer I witnessed
men hung from telephone poles.

I remember my mother
blindfolding me a lot.
She had a way of tucking my head
suddenly under her overcoat.

In chess, too, the professor told me,
the masters play blindfolded,
the great ones on several boards
at the same time.

Tabuleiro de Xadrez com Objetos Voadores
(Philip Lee: artista norte-americano)

Prodígio

Cresci inclinado sobre
um tabuleiro de xadrez.

Encantava-me a expressão xeque-mate.

Todos os meus primos pareciam preocupados.

Era uma casa pequena
perto de um cemitério romano.
Os aviões e os tanques
sacudiam as vidraças de suas janelas.

Um professor de astronomia aposentado
ensinou-me a jogar.

Isso deve ter ocorrido em 1944.

No conjunto que então usávamos
a pintura já havia quase se descolado
das peças pretas.

O rei branco foi extraviado
e teve que ser substituído.

Embora me alertassem, ainda não acredito
que naquele verão tenha avistado
homens pendurados em postes de rede telefônica.

Lembro-me de minha mãe
a muito vendar-me os olhos.
Tinha ela um modo repentino de esconder
minha cabeça sob o seu sobretudo.

No xadrez, identicamente, disse-me o professor,
os mestres jogam com os olhos vendados,
os mais notáveis em vários tabuleiros
ao mesmo tempo.

Referência:

SIMIC, Charles. Prodigy. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 437-438.

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