Como qualquer tradução que se faça de Cummings,
esta que ora apresento é, antes de tudo, um exercício de interpretação – uma entre as muitas possíveis! –, haja
vista que o poeta costuma trilhar por mares muito distantes dos tradicionais,
no que diz respeito à apresentação gráfica de seus poemas e à organização inusitada
dos termos das sentenças.
Eis aqui alguns de meus contornos: “one
times one” se transforma em “uma vez apenas”, pois 1 x 1 = 1, a unidade pura e
simples. Idem, “nothing times nothing” converte-se em “absolutamente nada”,
porquanto 0 x 0 = 0, ou seja, zero absoluto. Fazer o quê, se venho das ciências
exatas?!
Perceba o leitor que Cummings procura
sublinhar a proximidade e a separação entre os amantes, quando aplica as variantes
que refletem os vínculos das paixões: ora um, ora outro, ora ambos; ora ambos,
ora um, ora outro; ora o amor está nos amantes, ora os amantes estão no amor; e
por aí vai...
Ao lançar mão de tais recursos,
parece-nos que o objetivo é tanto enfatizar as sensações de amor – presentes em
cada um dos amantes –, quanto postular pela realização plena desse amor, por
meio de uma conexão superior ao que quer que exista como realidade física,
intelectiva ou passível de perecimento.
J.A.R. – H.C.
E. E. Cummings
(1894-1962)
the great advantage of being alive
the great advantage of being alive
(instead of undying)is not so much
that mind no more can disprove than prove
what heart may feel and soul may touch
–the great(my darling)happens to be
that love are in we,that love are in we
and here is a secret they never will share
for whom create is less than have
or one times one than when times where–
that we are in love,that we are in love:
with us they’ve nothing times nothing to do
(for love are in we am in i are in you)
this world(as timorous itsters all
to call their cowardice quite agree)
shall never discover our touch and feel
–for love are in we are in love are in we;
for you are and i am and we are(above
and under all possible worlds)in love
a billion brains may coax undeath
from fancied fact and spaceful time–
no heart can leap,no soul can breathe
but by the sizeless truth of a dream
whose sleep is the sky and the earth and the sea.
For love are in you am in i are in we
Os Amantes
(Pál Szinyei Merse: pintor húngaro)
a grande vantagem de
estar vivo
a grande vantagem de
estar vivo
(como alternativa a ser
imortal) não é tanto
que a mente não mais
possa refutar que atestar
o que o coração é
capaz de sentir e a alma tocar
– o sublime (minha
querida) resulta em
que o amor está em
nós, que o amor está em nós
e eis aqui um segredo que jamais será
compartilhado
com quem entende que criar é menos do que
ter
ou se limita a um só ensejo em vez de quando
e onde –
quão apaixonados estamos, quão apaixonados
estamos:
conosco eles absolutamente nada têm a
fazer
(pois o amor está em
nós está em mim está em você)
Este mundo (visto que
todos os timoratos fruidores
estão muito de acordo
em apelar à sua covardia)
nunca haverá de
descobrir nosso toque e sensação
– pois o amor está em
nós estamos no amor está em nós;
pois você está e eu
estou e nós estamos (acima
e abaixo de todo o mundo
possível) no amor
um bilhão de cérebros
pode alcançar a não-morte
a partir de um fato
imaginado e da vastidão do tempo –
nenhum coração pode
saltar, nenhuma alma respirar
senão pela verdade
incomensurável de um sonho
cujo sono é o céu e a
terra e o mar.
Pois o amor está em
você está em mim está em nós
Referência:
CUMMINGS, E. E. the great advantage of being alive. In: __________. Complete
poems: 1904-1962. Edited by George James Firmage. New York, NY:
LiverightPublishing Corporation, 1991. p. 664.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário