As rimas, elemento fundamental da tradição lírica, seriam, segundo
Montale, tão chatas quanto as senhoras de São Vicente de Paulo, que saem à
busca da caridade alheia, recolhendo donativos para os mais carentes.
Por isso, o poeta maduro estilisticamente deve mantê-las a distância,
lançando mão de outros recursos para elaborar a sua poesia e torná-la digna de
renome, cuidando para que não venha a ser tomado de súbito pelas mesmas e
incômodas rimas – tanto quanto pelas senhoras beatas...
J.A.R. – H.C.
Eugenio Montale
(1896-1981)
Le Rime
Le rime sono più
noiose delle
dame di San Vincenzo:
battono alla porta
e insistono.
Respingerle è impossibile
e purché stiano fuori
si sopportano.
Il poeta decente le
allontana
(le rime), le
nasconde, bara, tenta
il contrabbando. Ma
le pinzochere ardono
di zelo e prima o poi
(rime e vecchiarde)
bussano ancora e sono
sempre quelle.
Freiras: filhas da caridade de
São Vicente de Paulo
(Robert Wade: artista
australiano)
As Rimas
As rimas são mais
chatas do que
as damas de São
Vicente: batem à porta
e insistem.
Enxotá-las é impossível
mas desde que fiquem
do lado de fora são suportáveis.
O poeta decente as
afasta
(as rimas), as
esconde, trapaceia, tenta
passá-las de
contrabando. Mas essas beatas ardem
de zelo e cedo ou
tarde (rimas e velhotas)
soam novamente e são
sempre as mesmas.
Referência:
MONTALE, Eugenio. Le rime / As rimas.
Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti. In: __________. Poesias. Edição bilíngue. Seleção, tradução e notas de Geraldo
Holanda Cavalcanti. Prefácio de Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro, RJ:
Record, 1997. Em italiano: p. 128; em português: p. 129.
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