Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Eugenio Montale - As Rimas

As rimas, elemento fundamental da tradição lírica, seriam, segundo Montale, tão chatas quanto as senhoras de São Vicente de Paulo, que saem à busca da caridade alheia, recolhendo donativos para os mais carentes.

Por isso, o poeta maduro estilisticamente deve mantê-las a distância, lançando mão de outros recursos para elaborar a sua poesia e torná-la digna de renome, cuidando para que não venha a ser tomado de súbito pelas mesmas e incômodas rimas – tanto quanto pelas senhoras beatas...

J.A.R. – H.C.

Eugenio Montale
(1896-1981)

Le Rime

Le rime sono più noiose delle
dame di San Vincenzo: battono alla porta
e insistono. Respingerle è impossibile
e purché stiano fuori si sopportano.
Il poeta decente le allontana
(le rime), le nasconde, bara, tenta
il contrabbando. Ma le pinzochere ardono
di zelo e prima o poi (rime e vecchiarde)
bussano ancora e sono sempre quelle.

Freiras: filhas da caridade de
São Vicente de Paulo
(Robert Wade: artista australiano)

As Rimas

As rimas são mais chatas do que
as damas de São Vicente: batem à porta
e insistem. Enxotá-las é impossível
mas desde que fiquem do lado de fora são suportáveis.
O poeta decente as afasta
(as rimas), as esconde, trapaceia, tenta
passá-las de contrabando. Mas essas beatas ardem
de zelo e cedo ou tarde (rimas e velhotas)
soam novamente e são sempre as mesmas.

Referência:

MONTALE, Eugenio. Le rime / As rimas. Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti. In: __________. Poesias. Edição bilíngue. Seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti. Prefácio de Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1997. Em italiano: p. 128; em português: p. 129.

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