Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Ana Cristina Cesar - Noite de Natal

A poetisa descreve-se altamente “produzida” para a noite de Natal, embora julgue que seja um “desperdício”, porque, talvez, não vá ter um encontro com ninguém. Às pessoas que entram e saem, imagino, de sua morada, ela concede um “beijo técnico”, porque não está em paz consigo mesma...

Eis aí um claro exemplar da poesia confessional de Ana C. Cesar, a revelar ao leitor as lutas internas que a fazem “brigar” com Freud a todo instante, e que, salvo engano, poderiam denunciar o estado capaz de a levar ao ato final de sua própria vida, mal chegara aos trinta anos.

J.A.R. – H.C.

Ana Cristina Cesar
(1952-1983)

Noite de Natal

Noite de Natal.
Estou bonita que é um desperdício.
Não sinto nada
Não sinto nada, mamãe
Esqueci
Menti de dia
Antigamente eu sabia escrever
Hoje beijo os pacientes na entrada e na saída
com desvelo técnico.
Freud e eu brigamos muito.
Irene no céu desmente: deixou de
trepar aos 45 anos
Entretanto sou moça
estreando um bico fino que anda feio,
pisa mais que deve,
me leva indesejável pra perto das
botas pretas
pudera 

Armando a Árvore de Natal
(Betty Maud C. Fagan: artista inglesa)

Referência:

CESAR, Ana Cristina. Noite de Natal. In: __________. A teus pés. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2016. p. 66. (‘Poesia de Bolso’)


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