O poeta itabirano bem percebe que os dias podem transcorrer monotonamente,
tediosamente, fastidiosamente, porque lhes faltam o sal novidadeiro, o motivo
que nos faça acordar pela manhã sem abrir a boca num bocejo...
Mas como a robustecer o conceito que está por trás do próprio vocábulo,
o Natal nos subjuga com suas promessas, juras eternas de mares nunca dantes
navegados, borbulha e rebento das conjunções as mais inopinadas. Que ele
entorne sobre nós a sua cornucópia de bondades.
J.A.R. – H.C.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
Mensagem
Todas as coisas foram
pesquisadas,
Conferidas,
catalogadas em séries,
Não resta mais nenhum
prodígio
No seio da Terra, no
seio do ar.
O mundo é um bocejo.
Entretanto (como
explicar?)
Chega de manso,
infiltra-se em nossas paredes
De casa, de carne,
Impressentida
essência
(Melodia, memória)
E nos subjuga: Natal.
Em: Jornal do Brasil, 4/12/1982.
Segredo de Natal
(Donald Zolan:
artista norte-americano)
Referência:
ANDRADRE, Carlos Drummond de. Mensagem.
In: __________. Receita de ano-novo.
Concepção e seleção de Pedro Augusto Graña Drummond. Ilustrações de Andrés
Sandoval. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2015. p. 53.
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