O poeta irlandês concebe um hipotético monólogo de Maria depois do parto
de seu filho, aqui concebido como um arauto do apocalipse, num quadro mais
amplo de ruína e renascimento, ele que foi anunciado com um bater de asas à sua
volta (seria o acercamento do arcanjo Gabriel?) ou tal qual um fulgor em seu
ouvido (como não se associar a passagem ao título similar da obra de Elias Canetti?).
Maria se pergunta por quais razões não é ela uma mulher como as demais
mulheres comuns de sua aldeia, à beira do fogo, das trilhas do jardim, da
cisterna onde as roupas são limpas, mas uma senhora predestinada a carregar a
gravidade dos pressentidos acontecimentos futuros.
J.A.R. – H.C.
W. B. Yeats
(1865-1939)
The Mother of
God
The three-fold terror of love; a fallen flare
Through the hollow of an ear;
Wings beating about the room;
The terror of all terrors that I bore
The Heavens in my womb.
Had I not found content among the shows
Every common woman knows,
Chimney corner, garden walk,
Or rocky cistern where we tread the clothes
And gather all the talk?
What is this flesh I purchased with my pains,
This fallen star my milk sustains,
This love that makes my heart’s blood stop
Or strikes a sudden chill into my bones
And bids my hair stand up?
In: “The
Winding Stair and Other Poems” (1933)
A Sagrada Família
Detalhe
(Rafael Sanzio:
pintor italiano)
A Mãe de Deus
O triplo terror do
amor; um fulgor caído
Por entre o canal do
ouvido;
Um bater de asas à
volta da sala;
O terror de todos os
terrores que suportei
Com os Céus em meu
ventre.
Por que não me contentava
com as coisas
Que toda mulher comum
considera,
O canto da lareira, a
senda do jardim,
Ou a cisterna rochosa
onde batemos a roupa
E nos inteiramos de
tudo o que se passa?
O que é esta carne
que paguei com minhas dores,
Esta estrela caída
que o meu leite sustenta,
Este amor que estanca
o sangue do meu coração
Ou atinge meus ossos
com repentino calafrio
E deixa-me eriçados os
cabelos?
Em: “A Escada em Espiral e Outros
Poemas” (1933)
Referência:
YEATS, W. B. The mother of god. In: __________. The
collected poems of W. B. Yeats. Edited by Richard J. Finneran. 2nd ed. New
York, NY: Scribner Paperback Poetry, 1996. p. 249.
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