O ano está próximo da virada e um bêbado, num mundo à beira do caos,
mesmo Deus presente em toda parte, vivencia o estupor de suas autoilusões,
negligenciando-O, Ele que, na concepção do poeta, não é simbolizado por uma
pomba, a exemplo do cristianismo, mas como um falcão!
Robinson era, é bom que se diga, um aficionado por falcões, pois com
eles se acostumou ao se instalar na costa do Pacífico, a difundir o inumanismo,
ou seja, o amor do homem pela natureza, em vez do homem pelo homem, o qual
parecia-lhe uma espécie de incesto. Idiossincrasias do poeta: acrescentar o
quê?!
J.A.R. – H.C.
Robinson Jeffers
(1887-1962)
New Year’s Eve
Staggering homeward between the stream and the
trees the
unhappy drunkard
Babbles a woeful song and babbles
The end of the world, the moon’s like fired Troy in
a flying
cloud, the storm
Rises again, the stream’s in flood.
The moon’s like the sack of Carthage, the Bastile’s
broken,
pedlars and empires
Still deal in luxury, men sleep in prison.
Old Saturn thinks it was better in his grandsire’s
time
but that’s from the brittle
Arteries, it neither betters nor worsens.
(Nobody knows my love the falcon.)
It has always bristled with phantoms, always
factitious,
mildly absurd;
The organism, with no precipitous
Degeneration, slight imperceptible discounts of sense
and faculty,
Adapts itself to the culture-medium.
(Nobody crawls to the test-tube rim,
Nobody knows my love the falcon.)
The star’s on the mountain, the stream snoring in
flood;
the brain-lit drunkard
Crosses midnight and stammers to bed.
The inhuman nobility of things, the ecstatic
beauty, the
inveterate steadfastness
Uphold the four posts of the bed.
(Nobody knows my love the falcon.)
Gerifalte Branco
(Robert Bateman:
pintor canadense)
Véspera de Ano Novo
Cambaleando de
regresso à casa entre o riacho e as árvores o
infeliz bêbado
Balbucia uma canção
angustiosa,
O fim do mundo, a lua
é como Troia incendiada numa nuvem
flutuante, a tormenta
Acirra-se novamente,
o riacho está a transbordar.
A lua é como o saque
de Cartago, a queda da Bastilha,
mascates e impérios
Ainda negociam no
luxo, homens dormem na prisão.
O velho Saturno imagina
que tudo foi melhor na época
de seus antepassados,
mas isso vem da fragilidade de suas
Artérias, nada
melhora tampouco se agrava.
(Ninguém conhece o recebedor
de meu afeto, o falcão)
Ele sempre arrepiado
com fantasmas, sempre factícios,
ligeiramente absurdos;
O organismo, sem
qualquer degeneração
Precipitada, leve
redução imperceptível dos sentidos
e das faculdades,
Adapta-se à cultura do
meio.
(Ninguém se arrasta
até a borda do tubo de ensaio,
Ninguém conhece o
recebedor de meu afeto, o falcão.)
A estrela ascende
sobre a montanha, o riacho ressoa na enchente;
o bêbado de cérebro
ligado
Cruza a meia-noite e
tartamudeia em direção à cama.
A inumana nobreza das
coisas, a beleza extática, a
constância inveterada
Guarnecem os quatro
pés da cama.
(Ninguém conhece o
recebedor de meu afeto, o falcão.)
Referência:
JEFFERS, Robinson. New year’s eve. In: __________. The selected poetry by Robinson Jeffers. 8th Printing. New York,
NY: Random House, 1937. p. 595.
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