Quase no mesmo padrão do poema anterior, de Hughes, temos este outro, do
poeta e tradutor britânico Dick Davis, no qual, em cada uma de suas estrofes,
um personagem presente na cena do nascimento de Cristo enuncia suas afinidades
com o neonato, ao tempo que lhe dirige seus votos.
Estão a discursar Maria, um pastor, um dos magos... e um boi que a tudo
presencia: neste caso, em sua sentença prosopopaica, projeta ele para Jesus a
dura vida de um trabalhador, explorado e abusado por seus patrões, excluído do
festim da vida.
J.A.R. – H.C.
Dick Davis
(n. 1945)
A Christmas
Poem
One of the oxen said
‘I know him, he is me – a beast
Of burden, used, abused,
Excluded from the feast –
A toiler, one by whom
No task will be refused:
I wish him strength, I give him room.’
One of the shepherds said
‘I know him, he is me – a man
Who wakes when others sleep,
Whose watchful eyes will scan
The drifted snow at night
Alert for the lost sheep:
I give this lamb, I wish him sight.’
One of the wise men said
‘I know him, he is me – a king
On wisdom’s pilgrimage,
One Plato claimed would bring
– The world back to its old
Unclouded golden age:
I wish him truth, I give him gold.’
Mary his mother said
‘I know his heart’s need, it is mine –
The chosen child who lives
Lost in his Lord’s design,
The self and symbol of
The selfless life he gives:
I give him life, I wish him love.’
From: “The
Covenant” (1984)
A Natividade
(John S. Copley:
pintor norte-americano)
Um Poema de Natal
Um dos bois afirmou:
‘Eu o conheço, parece-se
comigo – uma besta
De carga, usada,
abusada,
Excluída do banquete
–
Um trabalhador,
alguém por quem
Nenhuma tarefa será
rejeitada:
Desejo-lhe força, dou-lhe
guarida.’
Um dos pastores
assegurou:
‘Eu o conheço,
parece-se comigo – um homem
Que se levanta quando
os outros adormecem,
Cujos olhos atentos
perscrutarão
A neve dispersada
durante a noite,
Alerta em busca da
ovelha perdida:
Dou-lhe este
cordeiro, desejo-lhe ótima visão.’
Um dos magos
comentou:
‘Eu o conheço,
parece-se comigo – um rei
Peregrino em busca de
sabedoria,
Que, segundo Platão, há
de devolver
O mundo à sua
antiga e
Desanuviada idade de
ouro:
Desejo-lhe a verdade,
dou-lhe ouro.’
Maria, sua mãe,
disse:
‘Sei do que o seu
coração precisa, ele é meu –
O menino escolhido
que ainda
Desconhece o seu desígnio
de Senhor,
A si mesmo e a vida
abnegada
Enquanto símbolo ele oferece:
Dou-lhe a vida,
desejo-lhe amor.’
De: “O Pacto” (1984)
Referência:
DAVIS, Dick. A christmas poem. In: HOLLANDER, John; McCLATCHY, J. D. (Sel. & Ed.). Christmas poems. New York, NY: Alfred A. Knopf, 1999. p. 125-126. (‘Everyman’s Library: Pocket Poets’)
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