Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Dick Davis - Um Poema de Natal

Quase no mesmo padrão do poema anterior, de Hughes, temos este outro, do poeta e tradutor britânico Dick Davis, no qual, em cada uma de suas estrofes, um personagem presente na cena do nascimento de Cristo enuncia suas afinidades com o neonato, ao tempo que lhe dirige seus votos.

Estão a discursar Maria, um pastor, um dos magos... e um boi que a tudo presencia: neste caso, em sua sentença prosopopaica, projeta ele para Jesus a dura vida de um trabalhador, explorado e abusado por seus patrões, excluído do festim da vida.

J.A.R. – H.C.

Dick Davis
(n. 1945)

A Christmas Poem

One of the oxen said
‘I know him, he is me – a beast
Of burden, used, abused,
Excluded from the feast –
A toiler, one by whom
No task will be refused:
I wish him strength, I give him room.’

One of the shepherds said
‘I know him, he is me – a man
Who wakes when others sleep,
Whose watchful eyes will scan
The drifted snow at night
Alert for the lost sheep:
I give this lamb, I wish him sight.’

One of the wise men said
‘I know him, he is me – a king
On wisdom’s pilgrimage,
One Plato claimed would bring
– The world back to its old
Unclouded golden age:
I wish him truth, I give him gold.’

Mary his mother said
‘I know his heart’s need, it is mine –
The chosen child who lives
Lost in his Lord’s design,
The self and symbol of
The selfless life he gives:
I give him life, I wish him love.’

From: “The Covenant” (1984)

A Natividade
(John S. Copley: pintor norte-americano)

Um Poema de Natal

Um dos bois afirmou:
‘Eu o conheço, parece-se comigo – uma besta
De carga, usada, abusada,
Excluída do banquete –
Um trabalhador, alguém por quem
Nenhuma tarefa será rejeitada:
Desejo-lhe força, dou-lhe guarida.’

Um dos pastores assegurou:
‘Eu o conheço, parece-se comigo – um homem
Que se levanta quando os outros adormecem,
Cujos olhos atentos perscrutarão
A neve dispersada durante a noite,
Alerta em busca da ovelha perdida:
Dou-lhe este cordeiro, desejo-lhe ótima visão.’

Um dos magos comentou:
‘Eu o conheço, parece-se comigo – um rei
Peregrino em busca de sabedoria,
Que, segundo Platão, há de devolver
O mundo à sua antiga e
Desanuviada idade de ouro:
Desejo-lhe a verdade, dou-lhe ouro.’

Maria, sua mãe, disse:
‘Sei do que o seu coração precisa, ele é meu –
O menino escolhido que ainda
Desconhece o seu desígnio de Senhor,
A si mesmo e a vida abnegada
Enquanto símbolo ele oferece:
Dou-lhe a vida, desejo-lhe amor.’

De: “O Pacto” (1984)

Referência:

DAVIS, Dick. A christmas poem. In: HOLLANDER, John; McCLATCHY, J. D. (Sel. & Ed.). Christmas poems. New York, NY: Alfred A. Knopf, 1999. p. 125-126. (Everyman’s Library: Pocket Poets’)


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