Para hoje, dia de Natal, selecionamos um poema audaz do alemão Bertolt
Brecht, autor não muito afeito às manifestações religiosas, é verdade, mas que,
neste caso, revela perspicácia para resgatar a perspectiva humana do nascimento
de uma criança, dada à luz por uma mãe empobrecida.
Brecht descolore o enredo bíblico das proposições idílicas que lhe foram
acrescentadas com o passar do tempo, deixando entrever o lado mais impiedoso de
uma mulher desamparada no momento crucial do parto, sem qualquer comodidade ou
cuidados, mínimos que fossem.
J.A.R. – H.C.
Bertolt Brecht
(1898-1956)
Maria
Die Nacht ihrer ersten Geburt war
Kalt gewesen. In späteren Jahren aber
Vergaß sie gänzlich
Den Frost in den Kummerbalken und rauchenden Ofen
Und das Würgen der Nachgeburt gegen Morgen zu.
Aber vor allem vergaß sie die bittere Scham
Nicht allein zu sein
Die dem Armen eigen ist.
Hauptsächlich deshalb
Ward es in späteren Jahren zum Fest, bei dem
Alles dabei war.
Das rohe Geschwätz der Hirten verstummte.
Später wurden aus ihnen Könige in der Geschichte.
Der Wind, der sehr kalt war
Wurde zum Engelsgesang.
Ja, von dem Loch im Dach, das den Frost einließ,
blieb nur
Der Stern, der hineinsah.
Alles dies
Kam vom Gesicht ihres Sohnes, der leicht war
Gesang liebte
Arme zu sich lud
Und die Gewohnheit hatte, unter Königen zu leben
Und einen Stern über sich zu sehen zur Nachtzeit.
(1922)
Maria e Jesus
(Pierre Mignard: pintor francês)
Maria
A noite de seu
primeiro parto
Havia sido fria. Mas
anos depois
Ela esqueceu
inteiramente
A frieza nas vigas
sujas e no forno fumegante
E o esforço ao
expulsar a placenta, já de manhã.
Mas sobretudo
esqueceu a amarga vergonha
De não poder estar só
Comum aos pobres.
Principalmente por
essa razão
É que anos depois
aquilo tornou-se uma festa
Com todos presentes.
A conversa rude dos
pastores calou.
Depois tornaram-se
reis na história.
O vento, que era
muito frio
Transformou-se em
coro de anjos.
Sim, do buraco no
teto que deixava passar o gelo ficou apenas
A estrela que olhava
através dele.
Tudo isso
Veio do rosto de seu
filho, que era leve
Amava o canto
Chamava a si os
pobres
E tinha o hábito de
viver entre reis
E de ver sobre si uma
estrela na hora da noite.
(1922)
Referências:
Em Alemão
BRECHT, Bertolt. Maria. In: __________. BROCKMANN Stephen; MAYER Mathias;
Hillesheim, Jürgen (Hrsg.). Ende, grenze,
dchluss?: Brecht und der tod. 1. auflage. Würzburg, DE: Königshausen &
Neumann, 2008. p. 127-128. (‘Der Neue
Brecht’; hg. von Jan Knopf und Jürgen Hillesheim, bd. 5/08)
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