Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 25 de dezembro de 2016

Bertolt Brecht - Maria

Para hoje, dia de Natal, selecionamos um poema audaz do alemão Bertolt Brecht, autor não muito afeito às manifestações religiosas, é verdade, mas que, neste caso, revela perspicácia para resgatar a perspectiva humana do nascimento de uma criança, dada à luz por uma mãe empobrecida.

Brecht descolore o enredo bíblico das proposições idílicas que lhe foram acrescentadas com o passar do tempo, deixando entrever o lado mais impiedoso de uma mulher desamparada no momento crucial do parto, sem qualquer comodidade ou cuidados, mínimos que fossem.

J.A.R. – H.C.

Bertolt Brecht
(1898-1956)

Maria

Die Nacht ihrer ersten Geburt war
Kalt gewesen. In späteren Jahren aber
Vergaß sie gänzlich
Den Frost in den Kummerbalken und rauchenden Ofen
Und das Würgen der Nachgeburt gegen Morgen zu.
Aber vor allem vergaß sie die bittere Scham
Nicht allein zu sein
Die dem Armen eigen ist.
Hauptsächlich deshalb
Ward es in späteren Jahren zum Fest, bei dem
Alles dabei war.
Das rohe Geschwätz der Hirten verstummte.
Später wurden aus ihnen Könige in der Geschichte.
Der Wind, der sehr kalt war
Wurde zum Engelsgesang.
Ja, von dem Loch im Dach, das den Frost einließ, blieb nur
Der Stern, der hineinsah.
Alles dies
Kam vom Gesicht ihres Sohnes, der leicht war
Gesang liebte
Arme zu sich lud
Und die Gewohnheit hatte, unter Königen zu leben
Und einen Stern über sich zu sehen zur Nachtzeit.

(1922) 

Maria e Jesus
(Pierre Mignard: pintor francês)

Maria

A noite de seu primeiro parto
Havia sido fria. Mas anos depois
Ela esqueceu inteiramente
A frieza nas vigas sujas e no forno fumegante
E o esforço ao expulsar a placenta, já de manhã.
Mas sobretudo esqueceu a amarga vergonha
De não poder estar só
Comum aos pobres.
Principalmente por essa razão
É que anos depois aquilo tornou-se uma festa
Com todos presentes.
A conversa rude dos pastores calou.
Depois tornaram-se reis na história.
O vento, que era muito frio
Transformou-se em coro de anjos.
Sim, do buraco no teto que deixava passar o gelo ficou apenas
A estrela que olhava através dele.
Tudo isso
Veio do rosto de seu filho, que era leve
Amava o canto
Chamava a si os pobres
E tinha o hábito de viver entre reis
E de ver sobre si uma estrela na hora da noite.

(1922)

Referências:

Em Alemão

BRECHT, Bertolt. Maria. In: __________. BROCKMANN Stephen; MAYER Mathias; Hillesheim, Jürgen (Hrsg.). Ende, grenze, dchluss?: Brecht und der tod. 1. auflage. Würzburg, DE: Königshausen & Neumann, 2008. p. 127-128. (‘Der Neue Brecht’; hg. von Jan Knopf und Jürgen Hillesheim, bd. 5/08)

Em Português

BRECHT, Bertolt. Maria. Tradução de Paulo César de Souza. In: __________. Poemas: 1913-1956. 5. ed. Seleção e tradução de Paulo César de Souza. São Paulo, SP: Editora 34, 2000. p. 26.


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