Ungaretti, um dos mestres da linguagem condensada e aparentemente
simples, de versos tantas vezes curtos e imediatos – como os desta postagem –,
resgata imagens e sensações caras ao período natalino, quando em inúmeras
circunstâncias nos deparamos com situações-limite.
Falamos do ritmo frenético em que as pessoas, nesta época, mergulham:
compras e mais compras, presentes, festas e votos mil de ventura, paz e
prosperidade. Disso tudo espera fugir o poeta, como se pode constatar na versão
do poema ao português que preparamos especialmente para o bloguinho.
J.A.R. – H.C.
Giuseppe Ungaretti
(1888-1970)
Natale
Non ho voglia
di tuffarmi
in un gomitolo
di strade
Ho tanta
stanchezza
sulle spalle
Lasciatemi così
come una
cosa
posata
in un
angolo
e dimenticata
Qui
non si sente
altro
che il caldo buono
Sto
con le quattro
capriole
di fumo
del focolare
Napoli il 26 dicembre 1916
In: “Naufragi” (1919)
Rua do Mercado em São Francisco
(Thomas Kinkade:
pintor norte-americano)
Natal
Não tenho vontade
de mergulhar
num emaranhado
de ruas
Carrego
tanto cansaço
sobre os ombros
Deixe-me assim
como uma
coisa
colocada
em um
canto
e esquecida
Aqui
não se sente
outra coisa senão
a aprazível calidez
Vou ficar
com as quatro
cabriolas
de fumaça
da lareira
Nápoles, 26 de dezembro de 1916
Em: “Naufrágios” (1919)
Referência:
UNGARETTI, Giuseppe. Natale. In: __________. L’Alegria: 1914-1919. Traducció de Jordi Domènech. Pròleg d’Haroldo de Campos.
Edición Bilingüe: Italiano x Español. Barcelona, ES: Ediciones del Mall, 1985. p. 134.
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