Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Robert Graves - O Melro do Natal

Graves emprega um ‘tour de force’ poético, para que os amantes percebam a alegria do Natal bem além da estação natalina – em fevereiro! –, enquanto a própria felicidade do casal avança muitos invernos à frente, quando então serão capazes de ver filas sem conta de árvores de Natal, além de numerosa descendência, até que algo mais que neve sobrevenha...

Decerto o poeta alude, no verso final do poema, ao término do relacionamento, embora não se saiba se de modo natural, pelo passamento de um dos amantes, ou se pela inerente propensão à impermanência das relações humanas. Faria diferença se, ao passar da régua, nada é mais permanente que... a mudança?!

J.A.R. – H.C.

Robert Graves
(1895-1985)

The Christmas Robin

The snows of February had buried Christmas
Deep in the woods, where grew self-seeded
The fir-trees of a Christmas yet unknown,
Without a candle or a strand of tinsel.

Nevertheless when, hand in hand, plodding
Between the frozen ruts, we lovers paused
And ‘Christmas trees!’ cried suddenly together,
Christmas was there again, as in December.

We velveted our love with fantasy
Down a long vista-row of Christmas trees,
Whose coloured candles slowly guttered down
As grandchildren came trooping round our knees.

But he knew better, did the Christmas robin −
The murderous robin with his breast aglow
And legs apart, in a spade-handle perched:
He prophesied more snow, and worse than snow.

Melro num Abeto Coberto de Neve
(Peter Thomas Upton: artista inglês)

O Melro do Natal

As neves de fevereiro haviam soterrado o Natal
No meio do bosque, onde espontâneos cresceram
Os abetos de um Natal ainda desconhecido,
Sem uma vela ou um cordão de ouropel.

No entanto quando, de mãos dadas, caminhando
Entre os sulcos congelados, nós amantes paramos
E gritamos de repente juntos: “árvores de Natal!”,
O Natal estava lá de novo, como em dezembro.

Aveludamos o nosso amor com fantasia
Sob uma longa fila visível de árvores de Natal,
Cujas velas coloridas gotejavam lentamente
Como netos em tropel à volta de nossos joelhos.

Porém melhor sabia o melro de Natal –
O funesto melro com o seu peito radiante
E pernas afastadas, empoleirado numa alça de pá:
Profetizou mais neve, e algo pior que neve.

Referência:

GRAVES, Robert. The christmas robin. In: __________. Collected Poems. 1st ed. New York, NY: Anchor Books, 1966. p. 80.


Nenhum comentário:

Postar um comentário