Graves emprega um ‘tour de force’ poético, para que os amantes percebam
a alegria do Natal bem além da estação natalina – em fevereiro! –, enquanto a
própria felicidade do casal avança muitos invernos à frente, quando então serão
capazes de ver filas sem conta de árvores de Natal, além de numerosa descendência,
até que algo mais que neve sobrevenha...
Decerto o poeta alude, no verso final do poema, ao término do
relacionamento, embora não se saiba se de modo natural, pelo passamento de um
dos amantes, ou se pela inerente propensão à impermanência das relações humanas.
Faria diferença se, ao passar da régua, nada é mais permanente que... a
mudança?!
J.A.R. – H.C.
(1895-1985)
The Christmas Robin
The snows of February had buried Christmas
Deep in the woods, where grew self-seeded
The fir-trees of a Christmas yet unknown,
Without a candle or a strand of tinsel.
Nevertheless when, hand in hand, plodding
Between the frozen ruts, we lovers paused
And ‘Christmas trees!’ cried suddenly together,
Christmas was there again, as in December.
We velveted our love with fantasy
Down a long vista-row of Christmas trees,
Whose coloured candles slowly guttered down
As grandchildren came trooping round our knees.
But he knew better, did the Christmas robin −
The murderous robin with his breast aglow
And legs apart, in a spade-handle perched:
He prophesied more snow, and worse than snow.
(Peter Thomas Upton:
artista inglês)
O Melro do
Natal
As neves de fevereiro
haviam soterrado o Natal
No meio do bosque,
onde espontâneos cresceram
Os abetos de um Natal
ainda desconhecido,
Sem uma vela ou um
cordão de ouropel.
No entanto quando, de
mãos dadas, caminhando
Entre os sulcos
congelados, nós amantes paramos
E gritamos de repente
juntos: “árvores de Natal!”,
O Natal estava lá de
novo, como em dezembro.
Aveludamos o nosso
amor com fantasia
Sob uma longa fila
visível de árvores de Natal,
Cujas velas coloridas
gotejavam lentamente
Como netos em tropel
à volta de nossos joelhos.
Porém melhor sabia o
melro de Natal –
O funesto melro com o
seu peito radiante
E pernas afastadas,
empoleirado numa alça de pá:
Profetizou mais neve,
e algo pior que neve.
Referência:
GRAVES, Robert. The christmas robin. In: __________. Collected Poems. 1st ed. New York, NY:
Anchor Books, 1966. p. 80.
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