Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 29 de julho de 2025

Ingeborg Bachmann - Ao Sol

Nesta ode dedicada aos esplendores do sol, a poetisa austríaca tece loas à estrela central do nosso sistema sideral, exaltando a sua beleza bem acima das de outros corpos celestes – como as da lua, dos cometas ou de outras estrelas –, tanto mais em razão, claro está, da sua importância vital para a manutenção da vida sobre a terra – a dos humanos, inclusive –, estatuindo-se, por conseguinte, como soberana metáfora para a esperança, o enlevo e o comprazimento.

 

Sem o sol, enfatiza Bachmann, até a arte perderia o seu brilho – mesmo porque ele serve como mote para altos-relevos, pinturas e outras numerosas manifestações plásticas, a exemplo de diversas telas de Van Gogh –, bem assim muito do que, sob a sua luz, se nos apresenta radiante e vivificante aos olhos, como os pássaros, a imensidão do mar, os veleiros sobre as águas, os peixes coloridos em um cardume, todas as belas paisagens encontráveis em nosso planeta.

 

J.A.R. – H.C.

 

Ingeborg Bachmann

(1926-1973)

 

An die Sonne

 

Schöner als der beachtliche Mond und sein geadeltes Licht,

Schöner als die Sterne, die berühmten Orden der Nacht,

Viel schöner als der feurige Auftritt eines Kometen

Und zu weit Schönerem berufen als jedes andre Gestirn,

Weil dein und mein Leben jeden Tag an ihr hängt, ist die Sonne.

 

Schöne Sonne, die aufgeht, ihr Werk nicht vergessen hat

Und beendet, am schönsten im Sommer, wenn ein Tag

An den Küsten verdampft und ohne Kraft gespiegelt die Segel

Über dein Aug ziehn, bis du müde wirst und das letzte verkürzt.

 

Ohne die Sonne nimmt auch die Kunst wieder den Schleier,

Du erscheinst mir nicht mehr, und die See und der Sand,

Von Schatten gepeitscht, fliehen unter mein Lid.

 

Schönes Licht, das uns warm hält, bewahrt und wunderbar sorgt,

Dass ich wieder sehe und dass ich dich wiederseh!

 

Nichts Schönres unter der Sonne als unter der Sonne zu sein...

 

Nichts Schönres als den Stab im Wasser zu sehn und den Vogel oben,

Der seinen Flug überlegt, und unten die Fische im Schwarm,

Gefärbt, geformt, in die Welt gekommen mit einer Sendung von Licht,

Und den Umkreis zu sehn, das Geviert eines Felds, das Tausendeck

meines Lands

Und das Kleid, das du angetan hast. Und dein Kleid, glockig und blau!

 

Schönes Blau, in dem die Pfauen spazieren und sich verneigen,

Blau der Fernen, der Zonen des Glücks mit den Wettern für mein Gefühl,

Blauer Zufall am Horizont! Und meine begeisterten Augen

Weiten sich wieder und blinken und brennen sich wund.

 

Schöne Sonne, der vom Staub noch die größte Bewundrung gebührt,

Drum werde ich nicht wegen dem Mond und den Sternen und nicht,

Weil die Nacht mit Kometen prahlt und in mir einen Narren sucht,

Sondern deinetwegen und bald endlos und wie um nichts sonst

Klage führen über den unabwendbaren Verlust meiner Augen.

 

O Sol

(Edvard Munch: pintor norueguês)

 

Ao Sol

 

Mais belo que a notável lua e sua nobre luz,

Mais belo que as estrelas, as insígnias célebres da noite,

Muito mais belo que a irrupção em chamas de um cometa

E eleito para algo mais belo que outro astro qualquer,

Pois minha e tua vida a ele estão ligadas dia a dia, é o sol.

 

Belo sol que, ao se erguer, não esqueceu suas tarefas

E as cumpre ainda com mais beleza no verão quando, na costa,

Um dia se evapora e, refletidas sem esforço, as velas passam

Pelo teu olho até que te fatigues e abrevies a derradeira.

 

Sem o sol mesmo a arte volta a pôr o véu,

Não me apareces mais e, vergastados pelas sombras,

Areia e mar abrigam-se sob minha pálpebra.

 

Bela luz que nos dá calor, nos guarda e propicia esse prodígio

Que é novamente ver e te rever.

 

Não mais belo sob o sol do que estar sob o sol...

 

Nada mais belo do que ver a haste na água e, rio alto, o pássaro

Ponderando seu voo e, embaixo, os peixes em cardumes

De muitas cores, multiformes e trazidos num jato de luz ao mundo,

Ver a circunferência, o quadrilátero de um campo, ângulos mil do meu país

E o vestido que vestes. Teu vestido azul em forma de campânula.

 

Tão belo azul no qual pavões, passeando, fazem reverências,

Azul dos longes, de regiões felizes que têm climas para meus humores,

Azulíssimo acaso no horizonte. E, arrebatados, os meus olhos

Dilatam-se outra vez e piscam e ardem doloridos.

 

Belo sol que merece a ilimitada admiração do próprio pó,

Por isto e não devido à lua ou às estrelas nem à noite

Que, procurando me fazer de tola, ostenta seus cometas,

Mas sim por tua causa e, em breve sem cessar, que em torno de mais nada,

Lamentarei a perda inevitável dos meus olhos.

 

Referência:

 

BACHMANN, Ingeborg. An die sonne / Ao sol. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Organização e Tradução). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. Em alemão: p. 302 e 304; em português: p. 303 e 305.

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