Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 13 de julho de 2025

Per Johns - Terceira margem

O “rio e o mar se completam”, diz o poeta, levando-nos a contemplar a existência humana sob a metáfora de algo que representa o misterioso e o efêmero, a plasmar o quinhão de nosso ser que sempre paira no vazio, com interrogantes jamais totalmente elucidadas: somos o rio e sua fonte – que em vão buscamos compreender, para darmos conta de nosso passado, de nossas raízes –, e, ao mesmo tempo, o mar – saída para a qual vogamos, rumo a um futuro incerto, envolto em mistério indecifrável.

 

A vida, sob tal perspectiva, torna-se travessia por uma “terceira margem”, um espaço liminar onde o ser humano se vê desnorteado pela ambiguidade de sua própria identidade, confinado à corrente contingente do tempo, enquanto transmigra inexoravelmente do rio ao mar, ou como se queira, do nascimento à morte.

 

J.A.R. – H.C.

 

Per Johns

(1933-2017)

 

Terceira margem

 

a Maria Helena Varela

in memoriam

 

Rio e mar se completam

e nos deixam vazios.

Um é entrada

a montante e aquém

de quem fomos um dia

Sem saber que o fomos.

O outro é saída

Para longe e além

de onde sempre estamos,

de onde nunca saímos.

 

Entre uma nascente

que em vão procuramos

e um litoral bruxuleante

que nos chama em vão,

mal sabemos quem somos.

 

O rio conhece o mar

(Anita Powell: artista australiana)

 

Referência:

 

JOHNS, Per. Terceira margem. Poesia sempre: revista semestral de poesia. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de janeiro (RJ), ano 14, n. 26, p. 183, 2007.

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