O poeta nos
transporta a um entorno marinho, no qual imagens naturais mesclam-se a estados
emocionais e conteúdos simbólicos, conferindo ao poema uma atmosfera velada e
cheia de contrastes: a noite, os caramujos, o sangue, os corais, as algas, a
areia, o vento e o mar entrelaçam-se numa dança macabra a evocar tanto a beleza,
quanto o lado atroz da natureza e da existência humana.
A dicotomia entre o
delicado e o violento, o eterno e o efêmero, o movimento e a lentidão, a
energia e a letargia, o vivo e o inerte, cria uma intrigante tensão poética,
superpondo camadas que tanto podem nos levar a lucubrar sobre a duvidosa
persistência da vida marinha frente às ações humanas, quanto sobre eventuais sequelas
resultantes de eventos históricos impactantes.
J.A.R. – H.C.
(1916-1985)
Folhas de alga
Noite dos amantes no
coração dos caramujos.
O sangue goteja de
mãos criminosas
Nos corais rolando na
praia.
Folhas de alga sobre
as tuas margens.
O tempo que vaga da
ampulheta às tuas mãos,
Que marca no instante
fugaz a duração do
ciclame na carne viva
da rocha;
E lembra-te do mal da
pedra muda como do
batimento do coração
da fonte
Que doa sua força
primeira ao mar – e o mar
Feito uma lua inunda
o leito dos amantes
entre areia e
caramujo
E o mar – o assobio
do vento fora dos velames brancos
Levando o vento para
os moinhos do vale de Salamis.
Alga vermelha sobre
fundo de céu azul
(Henri Matisse:
pintor francês)
Referência:
ROKEAH, David. Folhas de alga. Tradução de Jacob Guinsburg e Zulmira Ribeiro Tavares. In: GUINSBURG, Jacob; TAVARES, Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1960. p. 459. (Coleção “Judaica”; v. 12)
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