Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 27 de julho de 2025

David Rokeah - Folhas de alga

O poeta nos transporta a um entorno marinho, no qual imagens naturais mesclam-se a estados emocionais e conteúdos simbólicos, conferindo ao poema uma atmosfera velada e cheia de contrastes: a noite, os caramujos, o sangue, os corais, as algas, a areia, o vento e o mar entrelaçam-se numa dança macabra a evocar tanto a beleza, quanto o lado atroz da natureza e da existência humana.

 

A dicotomia entre o delicado e o violento, o eterno e o efêmero, o movimento e a lentidão, a energia e a letargia, o vivo e o inerte, cria uma intrigante tensão poética, superpondo camadas que tanto podem nos levar a lucubrar sobre a duvidosa persistência da vida marinha frente às ações humanas, quanto sobre eventuais sequelas resultantes de eventos históricos impactantes.

 

J.A.R. – H.C.

 

David Rokeah

(1916-1985)

 

Folhas de alga

 

Noite dos amantes no coração dos caramujos.

O sangue goteja de mãos criminosas

Nos corais rolando na praia.

 

Folhas de alga sobre as tuas margens.

O tempo que vaga da ampulheta às tuas mãos,

Que marca no instante fugaz a duração do

ciclame na carne viva da rocha;

E lembra-te do mal da pedra muda como do

batimento do coração da fonte

Que doa sua força primeira ao mar – e o mar

Feito uma lua inunda o leito dos amantes

entre areia e caramujo

E o mar – o assobio do vento fora dos velames brancos

Levando o vento para os moinhos do vale de Salamis.

 

Alga vermelha sobre fundo de céu azul

(Henri Matisse: pintor francês)

 

Referência:

 

ROKEAH, David. Folhas de alga. Tradução de Jacob Guinsburg e Zulmira Ribeiro Tavares. In: GUINSBURG, Jacob; TAVARES, Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1960. p. 459. (Coleção “Judaica”; v. 12)

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