Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 20 de julho de 2025

Victor Hugo - Escrito sobre o túmulo de uma criança próximo ao mar

Hugo combina elementos naturais à expressão da dor humana para intensificar a emotividade transmitida por este poema, o qual, em tintas melancólicas, estampa um profundo sentimento de perda e de resignação diante da transitoriedade suficientemente fugaz de uma vida interrompida tão abruptamente, ainda em seus dias de infância.

 

Ao belo e plácido entorno, lindeiro à tumba da criança, o poeta solicita que guarde silêncio e respeite o descanso eterno do(a) infante e o pesar da mãe enlutada, para que, a um só tempo, se torne testemunha e figurante de uma cena que, em última instância, tenciona evidenciar a força e a perpetuidade do mundo natural, em contraste com a suprema fragilidade do existir humano.

 

J.A.R. – H.C.

 

Victor Hugo

(1802-1885)

 

Ecrit sur le tombeau d’un petit enfant au bord de la mer

 

Vieux lierre, frais gazon, herbe, roseaux, corolles;

Eglise où l’esprit voit le Dieu qu’il rêve ailleurs;

Mouches qui murmurez d’ineffables paroles

À l’oreille du pâtre assoupi dans les fleurs;

 

Vents, flots, hymne orageux, choeur sans fin, voix sans nombre;

Bois qui faites songer le passant sérieux;

Fruits qui tombez de l’arbre impénétrable et sombre;

Etoiles qui tombez du ciel mystérieux;

 

Oiseaux aux cris joyeux, vague aux plaintes profondes;

Froid lézard des vieux murs dans les pierres tapi;

Plaines qui répandez vos souffles sur les ondes;

Mer où la perle éclôt, terre où germe l’épi;

 

Nature d’où tout sort, nature où tout retombe,

Feuilles, nids, doux rameaux que l’air n’ose effleurer.

Ne faites pas de bruit autour de cette tombe;

Laissez l’enfant dormir et la mère pleurer!

 

Le 21 janvier 1840

Dans: “Les Rayons et les Ombres” (1840)

 

Mulher entristecida chorando junto à lápide

(Ilustração de autoria desconhecida)

 

Escrito sobre o túmulo de uma criança próximo ao mar

 

Estiolada hera, céspede viçoso, relva, juncos, corolas;

Igreja onde o espírito vê o Deus com que sonha em outro lugar;

Moscas que murmuram inefáveis palavras

Ao ouvido do pastor que dormita entre as flores;

 

Ventos, serpeios, hino revolto, coro sem fim, incontáveis vozes;

Bosque que convida à meditação o sisudo transeunte;

Frutos que caem da árvore impenetrável e sombria;

Estrelas que tombam de um céu misterioso;

 

Pássaros com ledos gritos, vagas com lamentos profundos;

Um impassível lagarto à espreita nas pedras das velhas muralhas;

Planuras que espargem a sua brisa sobre as ondas;

Mar onde a pérola eclode, terra onde germina a espiga;

 

Natureza de onde tudo provém e para onde tudo retorna,

Folhas, ninhos, ramos tenros que o ar não ousa agitar.

Não façais barulho à volta deste túmulo;

Que possam a criança dormir e a mãe a prantear!

 

21 de janeiro de 1840

Em: “Os Resplendores e as Sombras” (1840)

 

Referência:

 

HUGO, Victor. Ecrit sur le tombeau d’un petit enfant au bord de la mer. In: __________. Le libre des mères et des enfants. Vignettes par E. Froment. Paris, FR: J. Hetzel & Cie. Editeurs, 1877. p. 223-224. (‘Bibliothèque d’Éduction et de Recreation’)

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