Hugo combina
elementos naturais à expressão da dor humana para intensificar a emotividade
transmitida por este poema, o qual, em tintas melancólicas, estampa um profundo
sentimento de perda e de resignação diante da transitoriedade suficientemente
fugaz de uma vida interrompida tão abruptamente, ainda em seus dias de
infância.
Ao belo e plácido entorno,
lindeiro à tumba da criança, o poeta solicita que guarde silêncio e respeite o
descanso eterno do(a) infante e o pesar da mãe enlutada, para que, a um só
tempo, se torne testemunha e figurante de uma cena que, em última instância,
tenciona evidenciar a força e a perpetuidade do mundo natural, em contraste com
a suprema fragilidade do existir humano.
J.A.R. – H.C.
Victor Hugo
(1802-1885)
Ecrit sur le tombeau d’un petit enfant au bord de la mer
Vieux lierre, frais gazon, herbe, roseaux,
corolles;
Eglise où l’esprit voit le Dieu qu’il rêve
ailleurs;
Mouches qui murmurez d’ineffables paroles
À l’oreille du pâtre assoupi dans les fleurs;
Vents, flots, hymne orageux, choeur sans fin, voix
sans nombre;
Bois qui faites songer le passant sérieux;
Fruits qui tombez de l’arbre impénétrable et sombre;
Etoiles qui tombez du ciel mystérieux;
Oiseaux aux cris joyeux, vague aux plaintes
profondes;
Froid lézard des vieux murs dans les pierres tapi;
Plaines qui répandez vos souffles sur les ondes;
Mer où la perle éclôt, terre où germe l’épi;
Nature d’où tout sort, nature où tout retombe,
Feuilles, nids, doux rameaux que l’air n’ose
effleurer.
Ne faites pas de bruit autour de cette tombe;
Laissez l’enfant dormir et la mère pleurer!
Le 21 janvier 1840
Dans: “Les Rayons et
les Ombres” (1840)
Mulher entristecida
chorando junto à lápide
(Ilustração de autoria
desconhecida)
Escrito sobre o
túmulo de uma criança próximo ao mar
Estiolada hera, céspede
viçoso, relva, juncos, corolas;
Igreja onde o
espírito vê o Deus com que sonha em outro lugar;
Moscas que murmuram inefáveis
palavras
Ao ouvido do pastor que
dormita entre as flores;
Ventos, serpeios, hino
revolto, coro sem fim, incontáveis vozes;
Bosque que convida à
meditação o sisudo transeunte;
Frutos que caem da
árvore impenetrável e sombria;
Estrelas que tombam
de um céu misterioso;
Pássaros com ledos
gritos, vagas com lamentos profundos;
Um impassível lagarto
à espreita nas pedras das velhas muralhas;
Planuras que espargem
a sua brisa sobre as ondas;
Mar onde a pérola
eclode, terra onde germina a espiga;
Natureza de onde tudo
provém e para onde tudo retorna,
Folhas, ninhos, ramos
tenros que o ar não ousa agitar.
Não façais barulho à
volta deste túmulo;
Que possam a criança dormir
e a mãe a prantear!
21 de janeiro de 1840
Em: “Os Resplendores
e as Sombras” (1840)
Referência:
HUGO, Victor. Ecrit
sur le tombeau d’un petit enfant au bord de la mer. In: __________. Le libre
des mères et des enfants. Vignettes par E. Froment. Paris, FR: J. Hetzel
& Cie. Editeurs, 1877. p. 223-224. (‘Bibliothèque d’Éduction et de
Recreation’)
❁


Nenhum comentário:
Postar um comentário