O poeta nos descreve
um momento de repentina claridade matutina, em meio a uma tormenta que começa a
amainar, resultando no descerramento momentâneo do céu, o que lhe permite vislumbrar
algo mais além do que as complexidades da vida, numa revelação fugaz do
essencial, daquilo que transcende o tempo e as circunstâncias, deixando-o com um
profundo sentimento de gratidão.
Os versos denotam o enigmático
de uma sensação de conexão com uma verdade pura e simples, subjacente à nossa
existência, tão inefável que supera a nossa capacidade de descrevê-la com
palavras, pois que fundida ao quotidiano, como o ar que se respira e não se vê, quase redutível – dir-se-ia – à graça elementar de se estar vivo.
J.A.R. – H.C.
W. S. Merwin
(1927-2019)
Just now
In the morning as the
storm begins to blow away
the clear sky appears
for a moment and it seems to me
that there has been something
simpler than I could ever believe
simpler than I could
have begun to find words for
not patient not even
waiting no more hidden
than the air itself
that became part of me for a while
with every breath and
remained with me unnoticed
something that was
here unnamed unknown in the days
and the nights not
separate from them
not separate from
them as they came and were gone
it must have been
here neither early nor late then
by what name can I
address it now holding out my thanks
Um novo amanhecer
(Lorraine Germaine: artista
canadense)
Agora mesmo
Pela manhã, quando a
tormenta começa a se dissipar,
o céu límpido surge
por um momento e me parece
haver algo mais
simples do que eu jamais poderia acreditar;
mais simples do que o
poder de encetar a busca por palavras
para não ser
paciente, nem para me pôr à espera; não mais oculto
do que o próprio ar
que se tornou parte de mim por um tempo,
a cada respiração, e permaneceu
comigo sem ser notado;
algo que sempre esteve
aqui, sem nome, desconhecido
ao longo dos dias e das
noites, não separado deles,
não separado deles enquanto
chegavam e partiam,
presente nesse
comenos, nem tão cedo nem tão tarde;
então com que nome
posso abordá-lo agora, para lhe ser grato?
Referência:
MERWIN, W. S. Just
now. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard
times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 289.
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