Envoltos em uma atmosfera
onírica e sensual, estes versos de Paz descrevem certa noite de verão como se
fosse um corpo vivo e palpável, no qual os elementos naturais – como os rios,
estrelas e o vento – se fundem em uma única e vibrante experiência: trata-se,
claro está, de uma celebração metafórica da natureza, em sua máxima expressão
durante a estação estival.
Nesse espaço de uma sempre
latente e avassaladora vida, de forças ora contrastantes ou antagônicas ora complementares,
tudo respira, se reproduz e flui num eterno ciclo de nascimento e renascimento:
a noite se revela, sob a ótica desse cenário algo surrealista, um espaço de
transformação e de criação, singularizado pelos efeitos de uma beleza que o universo
sabe como expressar, ao interconectar com aprumo todos os seus elementos.
J.A.R. – H.C.
Octavio Paz
(1914-1998)
Noche de verano
Pulsas, palpas el
cuerpo de la noche,
verano que te bañas
en los ríos,
soplo en el que se
ahogan las estrellas,
aliento de una boca,
de unos labios de
tierra.
Terra de labios, boca
donde un infierno
agónico jadea,
labios en donde el
cielo llueve
y el agua canta y
nacen paraísos.
Se incendia el árbol
de la noche
y sus astillas son
estrellas,
son pupilas, son
pájaros.
Fluyen ríos
sonámbulos,
lenguas de sal
incandescente
contra una playa
obscura.
Todo respira, vive,
fluye:
la luz en su temblor,
el ojo en el espacio,
el corazón en su
latido,
la noche en su
infinito.
Un nacimiento
obscuro, sin orillas,
nace en la noche de
verano.
Y en tu pupila nace
todo el cielo.
En: “Asueto”
(1939-1944)
Noite de verão na
praia
(Edvard Munch: pintor
norueguês)
Noite de verão
Pulsas, apalpas o
corpo da noite,
verão que te banha
nos rios,
sopro no qual se
afogam as estrelas,
alento de uma boca,
de uns lábios de
terra.
Terra de lábios, boca
de onde um inferno
agônico jadeia,
lábios de onde um céu
chove
e a água canta e
nascem paraísos.
Incendeia-se a árvore
da noite
e seus estilhaços são
estrelas,
são pupilas, são
pássaros.
Fluem rios
sonâmbulos,
línguas de sal
incandescente
contra uma praia
escura.
Tudo respira, vive,
flui:
a luz em seu tremor,
o olho no espaço,
o coração em seu
pulso,
a noite em seu
infinito,
Um nascimento escuro,
sem orlas,
nasce na noite de
verão.
E em tua pupila nasce
todo o céu.
Em: “Folga” (1939-1944)
Referência:
PAZ, Octavio. Noche
de verano / Noite de verão. Tradução de Elson Fróes. In: FRÓES, Elson. Poemas
traduzidos. Edição eletrônica, copyright © Elson Fróes, 2003. Em espanhol:
p. 24; em português: p. 25.
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