Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 8 de julho de 2025

Octavio Paz - Noite de verão

Envoltos em uma atmosfera onírica e sensual, estes versos de Paz descrevem certa noite de verão como se fosse um corpo vivo e palpável, no qual os elementos naturais – como os rios, estrelas e o vento – se fundem em uma única e vibrante experiência: trata-se, claro está, de uma celebração metafórica da natureza, em sua máxima expressão durante a estação estival.

 

Nesse espaço de uma sempre latente e avassaladora vida, de forças ora contrastantes ou antagônicas ora complementares, tudo respira, se reproduz e flui num eterno ciclo de nascimento e renascimento: a noite se revela, sob a ótica desse cenário algo surrealista, um espaço de transformação e de criação, singularizado pelos efeitos de uma beleza que o universo sabe como expressar, ao interconectar com aprumo todos os seus elementos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Octavio Paz

(1914-1998)

 

Noche de verano

 

Pulsas, palpas el cuerpo de la noche,

verano que te bañas en los ríos,

soplo en el que se ahogan las estrellas,

aliento de una boca,

de unos labios de tierra.

 

Terra de labios, boca

donde un infierno agónico jadea,

labios en donde el cielo llueve

y el agua canta y nacen paraísos.

 

Se incendia el árbol de la noche

y sus astillas son estrellas,

son pupilas, son pájaros.

Fluyen ríos sonámbulos,

lenguas de sal incandescente

contra una playa obscura.

 

Todo respira, vive, fluye:

la luz en su temblor,

el ojo en el espacio,

el corazón en su latido,

la noche en su infinito.

 

Un nacimiento obscuro, sin orillas,

nace en la noche de verano.

Y en tu pupila nace todo el cielo.

 

En: “Asueto” (1939-1944)

 

Noite de verão na praia

(Edvard Munch: pintor norueguês)

 

Noite de verão

 

Pulsas, apalpas o corpo da noite,

verão que te banha nos rios,

sopro no qual se afogam as estrelas,

alento de uma boca,

de uns lábios de terra.

Terra de lábios, boca

de onde um inferno agônico jadeia,

lábios de onde um céu chove

e a água canta e nascem paraísos.

Incendeia-se a árvore da noite

e seus estilhaços são estrelas,

são pupilas, são pássaros.

Fluem rios sonâmbulos,

línguas de sal incandescente

contra uma praia escura.

Tudo respira, vive, flui:

a luz em seu tremor,

o olho no espaço,

o coração em seu pulso,

a noite em seu infinito,

Um nascimento escuro, sem orlas,

nasce na noite de verão.

E em tua pupila nasce todo o céu.

 

Em: “Folga” (1939-1944)

 

Referência:

 

PAZ, Octavio. Noche de verano / Noite de verão. Tradução de Elson Fróes. In: FRÓES, Elson. Poemas traduzidos. Edição eletrônica, copyright © Elson Fróes, 2003. Em espanhol: p. 24; em português: p. 25.

Nenhum comentário:

Postar um comentário