A vida, às vezes,
pode se nos mostrar irônica, em especial quando nos encaminha à boa vida, quiçá
à felicidade, sem aviso prévio, e nós, não necessariamente, a reconhecemos
quando está presente: em meio a instantes efêmeros, mas plenos de insights, ter
uma vida que nos satisfaça pode se dar mesmo no que se passa conosco como ordinário
ou quotidiano.
Carregada por imagens
que nos sugerem aportes surrealistas, a escrita de Stand, entre sonhadora e
meditativa, parece nos sugerir, sob tal contexto, que a felicidade pode nos
alcançar sutilmente nos momentos mais inesperados, inclusive quando somos
tomados pela incerteza – sobretudo quanto ao futuro que nos espera – ou, ainda,
quando entregues à indolência contemplativa da paisagem ao redor.
J.A.R. – H.C.
Mark Strand
(1934-2014)
The Good Life
You stand at the
window.
There is a glass
cloud in the shape of a heart.
There are the wind’s
sighs that are like caves in your speech.
You are the ghost in
the tree outside.
The street is quiet.
The weather, like
tomorrow, like your life,
is partially here,
partially up in the air.
There is nothing that
you can do.
The good life gives
no warning.
It weathers the
climates of despair
and appears, on foot,
unrecognized, offering nothing,
and you are there.
In: “Darker: poems”
(1970)
Homem à Janela
(Henri de Braekeleer:
pintor belga)
A Boa Vida
Estás à janela.
Há uma nuvem de vidro
em forma de coração.
Há suspiros de vento
que são como grutas em tua fala.
És o fantasma na
árvore lá fora.
A rua está calma.
O tempo, como o
amanhã, como a tua vida,
está em parte aqui,
em parte na atmosfera.
Não há nada que
possas fazer.
A boa vida não dá
qualquer aviso.
Expõe-se aos climas
do desespero
e aparece, a pé, sem
ser reconhecida, sem nada a oferecer,
e aí te encontras.
Em: “Mais escuro:
poemas” (1970)
Referência:
STRAND, Mark. The
good life. In: __________. Selected poems. 1st ed. New York, NY:
Atheneum, 1980. p. 60.
❁


Nenhum comentário:
Postar um comentário