Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Emil de Castro - A casa

O poeta nos exorta a percebermos a casa – esse espaço de aconchego e de acolhimento – não somente como uma estrutura física, mas também como um ente vivo, uma criatura capaz de respirar e de pulsar em ritmo próprio, ostentando, sob tal perspectiva, facetas ao mesmo tempo mundanas e etéreas, concretas e oníricas – à maneira de um latejante microcosmos onde habita a essência mesma da vida.

 

As imagens e metáforas empregadas por Emil sublinham a íntima relação entre uma casa e seus residentes, denotando, de algum modo, o conceito apreendido pelo que costumamos designar por “lar”: dentro dela é que correm os rios dos sonhos, das emoções, das lembranças, dos sentimentos e dos pensamentos humanos. Para mais: um lugar onde se vivenciam sofrimentos ou intensas paixões; um recinto dual a comportar tanto a presunção de estabilidade quanto o ideal de renovação.

 

J.A.R. – H.C.

 

Emil de Castro

(n. 1941)

 

A Casa

 

Existir de barro a casa

e seus cômodos

de gente e coisas.

Sentir sua intimidade

nas rugas do emboço

tecido nas entranhas

de portas e janelas.

Constrecer os cantos

entre o céu e o solo

o sol de pino

aceso sobre a pedra.

 

A casa vista de fora

com sua existência viva

movimentada nos seus túneis

subterrâneos

flor detida no caule

florida no íntimo

do chão

 

florânea.

 

A casa projetada de dentro

injetada na transfusão

de arrastar de cadeiras

desfeita em vento

aérea e volátil

no contorno de sombras

 

solombra.

 

Existir de casa

suspensa no território

onírico

 

pingando sangue.

 

Em: “Estação de partida” (2002)

 

A casa do artista

(Pierre-Auguste Renoir: pintor francês)

 

Referência:

 

CASTRO, Emil. A casa. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor: Emil de Castro. Rio de Janeiro, RJ: Edições Galo Branco, 2003. p. 33-34. (Coleção ’50 poemas escolhidos pelo autor’; v. 6)

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