Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Giorgos Seféris - O velho

Nesta evocação simbólica da velhice e da solidão, Seféris retrata o velho como uma presença ligada ao mundo natural, de quem é conhecedor pleno dos seus ciclos e da inevitabilidade da morte, ao mesmo tempo que testemunha silenciosa e resistente às forças do tempo e da memória, na condição de um ser marcado pela sucessão dos dias que lhe conformam a experiência.

 

Com efeito, trata-se de um vulto quase espectral, cujo corpo desgastado, com cicatrizes e marcas, também carrega inumeráveis lembranças de pessoas e situações, algumas cruéis e agressivas, ao lado de outras tantas que aos poucos se desmaterializam em seu espírito, enquanto ele próprio não se aproxima de vez da pira inexorável em que a sua luz anímica haverá de se extinguir.

 

J.A.R. – H.C.

 

Giorgos Seféris

(1900-1971)

 

Ο γέρος

 

Πέρασαν τόσα κοπάδια τόσοι φτωχοί

και πλούσιοι καβαλάρηδες, άλλοι

από τα μακρινά χωριά είχαν μείνει

τη νύχτα στα χαντάκια της δημοσιάς

άναψαν φωτιές για τους λύκους, βλέπεις

τη στάχτη; Μαυριδεροί κύκλοι επουλωμένοι.

Είναι γεμάτος σημάδια σαν το δρόμο.

Στο ξεροπήγαδο πιο πάνω ρίχναν τα λυσσασμένα

σκυλιά, δεν έχει μάτια είναι γεμάτος

σημάδια κι αλαφρύς· φυσά ο αγέρας·

δεν ξεχωρίζει τίποτε ξέρει τα πάντα,

άδειο θηκάρι τζίτζικα σε κούφιο δέντρο

δεν έχει μάτια μήτε στα χέρια, ξέρει

την αυγή και το δείλι ξέρει τ αστέρια

το αίμα τους δεν τον θρέφει, μήτε νεκρός

δεν είναι, δεν έχει φυλή δε θα πεθάνει

θα τον ξεχάσουν έτσι, μήτε πρόγονος.

Τα κουρασμένα νύχια στα δάχτυλά του

γράφουν σταυρούς πάνω σε σάπιες θύμησες

καθώς φυσά ο αγέρας θολός. Χιονίζει.

 

Είδα την πάχνη γύρω στα πρόσωπα

είδα τα χείλια υγρά τα δάκρυα παγωμένα

στην κόχη του ματιού, είδα τη γραμμή

του πόνου πλάι στα ρουθούνια και την προσπάθεια

στις ρίζες του χεριού, είδα το σώμα να τελειώνει.

Δεν είναι μόνος ο ίσκιος αυτός δεμένος

σ ένα στεγνό ραβδί που δε λυγίζει

δε σκύβει να πλαγιάσει, δεν μπορεί·

ο ύπνος θα σκόρπιζε τις κλείδωσές του

στα χέρια των παιδιών να παίξουν.

Προστάζει σαν τους πεθαμένους κλώνους

που σπάνε όταν νυχτώνει και ξυπνά

ο αγέρας μες στις λαγκαδιές

προστάζει τους ίσκιους των ανθρώπων

όχι τον άνθρωπο μέσα στον ίσκιο

που δεν ακούει παρά τη χαμηλή φωνή

της γης και του πελάγου εκεί που σμίγουν

της μοίρας τη φωνή. Στέκεται ολόρθος

στην όχθη, μέσα σε κουβάρια κόκαλα

μέσα σε στοίβες κίτρινα φύλλα:

άδειο κλουβί προσμένοντας

την ώρα της φωτιάς.

 

Ντρένοβοφλεβάρησ 1937

Σε: “Τετράδιο Γυμνασμάτων I” (1940)

 

O velho e a morte

(Joseph Wright of Derby: pintor inglês)

 

O velho

 

Tantos rebanhos desfilaram tantos cavaleiros

pobres e ricos, outros

de aldeias distantes tinham passado a noite

nas valetas da estrada

acenderam fogueiras contra os lobos, vês

a cinza? Negras, redondas cicatrizes.

Está cheio de sinais tal como a estrada.

Atiravam no poço ressequido, mais ao alto,

os cães raivosos, não tem olhos está cheio

de sinais e é delgado; sopra o vento;

não distingue coisa alguma sabe tudo,

vácua bainha de cigarra num tronco oco

não tem olhos nem nas mãos, conhece

o nascer e o pôr do sol conhece os astros

o sangue deles não o nutre, nem morto

está, não tem estirpe não irá morrer

não de esquecê-lo assim como é, sem avoengo.

As unhas gastas dos seus dedos

riscam cruzes sobre pútridas lembranças

enquanto sopra o vento turvo. Neva.

 

Vi a geada em torno dos rostos

vi os lábios úmidos vi as lágrimas congeladas

no canto do olho, vi o sulco

da dor nas aletas do nariz e o labor

nas raízes da mão, vi o corpo findar-se.

Não é só esta sombra unida

a uma vara seca que não dobra

nem se curva para deitar-se, não o pode;

o sono espalharia as suas juntas

pelas mãos dos meninos para eles brincarem.

Como se dominasse os galhos mortos

que se quebram ao anoitecer e o vento

rompe pelos vales,

dominasse as sombras dos homens

não o homem na sombra

que não escuta a surda voz

da terra e do mar ali onde misturam-se

à voz do destino. Ergue-se bem erecto

na margem, entre pilhas de ossos

e montes de folhas amarelecidas:

jaula vazia à espera

da hora do fogo.

 

Drenovo, fevereiro de 1937

Em: “Cadernos de Exercícios I” (1940)

 

Referências:

 

Em Grego

 

ΣΕΦΈΡΗΣ, Γιώργος. Ο γέρος. In: SEFERIS, George. Collected poems. A bilingual edition: Greek x English. Translated, edited and introduced by Edmund Keeley and Philip Sherrard. Expanded edition. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1981. p. 112 and 114.

 

Em Português

 

SEFÉRIS, Giorgos. O velho. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, introdução, tradução direta do grego e notas de José Paulo Paes. São Paulo, SP: Nova Alexandria, 1995. p. 84-85.

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