Nesta evocação
simbólica da velhice e da solidão, Seféris retrata o velho como uma presença
ligada ao mundo natural, de quem é conhecedor pleno dos seus ciclos e da inevitabilidade
da morte, ao mesmo tempo que testemunha silenciosa e resistente às forças do
tempo e da memória, na condição de um ser marcado pela sucessão dos dias que
lhe conformam a experiência.
Com efeito, trata-se
de um vulto quase espectral, cujo corpo desgastado, com cicatrizes e marcas, também
carrega inumeráveis lembranças de pessoas e situações, algumas cruéis e
agressivas, ao lado de outras tantas que aos poucos se desmaterializam em seu
espírito, enquanto ele próprio não se aproxima de vez da pira inexorável em que
a sua luz anímica haverá de se extinguir.
J.A.R. – H.C.
Giorgos Seféris
(1900-1971)
Ο γέρος
Πέρασαν τόσα κοπάδια τόσοι φτωχοί
και πλούσιοι καβαλάρηδες, άλλοι
από τα μακρινά χωριά είχαν μείνει
τη νύχτα στα χαντάκια της δημοσιάς
άναψαν φωτιές για τους λύκους, βλέπεις
τη στάχτη; Μαυριδεροί κύκλοι επουλωμένοι.
Είναι γεμάτος σημάδια σαν το δρόμο.
Στο ξεροπήγαδο πιο πάνω ρίχναν τα λυσσασμένα
σκυλιά, δεν έχει μάτια είναι γεμάτος
σημάδια κι αλαφρύς· φυσά ο αγέρας·
δεν ξεχωρίζει τίποτε ξέρει τα πάντα,
άδειο θηκάρι τζίτζικα σε κούφιο δέντρο
δεν έχει μάτια μήτε στα χέρια, ξέρει
την αυγή και το δείλι ξέρει τ’ αστέρια
το αίμα τους δεν τον θρέφει, μήτε νεκρός
δεν είναι, δεν έχει φυλή δε θα πεθάνει
θα τον ξεχάσουν έτσι, μήτε πρόγονος.
Τα κουρασμένα νύχια στα δάχτυλά του
γράφουν σταυρούς πάνω σε σάπιες θύμησες
καθώς φυσά ο αγέρας θολός. Χιονίζει.
Είδα την πάχνη γύρω στα πρόσωπα
είδα τα χείλια υγρά τα δάκρυα παγωμένα
στην κόχη του ματιού, είδα τη γραμμή
του πόνου πλάι στα ρουθούνια και την προσπάθεια
στις ρίζες του χεριού, είδα το σώμα να τελειώνει.
Δεν είναι μόνος ο ίσκιος αυτός δεμένος
σ’ ένα στεγνό ραβδί που δε λυγίζει
δε σκύβει να πλαγιάσει, δεν μπορεί·
ο ύπνος θα σκόρπιζε τις κλείδωσές του
στα χέρια των παιδιών να παίξουν.
Προστάζει σαν τους πεθαμένους κλώνους
που σπάνε όταν νυχτώνει και ξυπνά
ο αγέρας μες στις λαγκαδιές
προστάζει τους ίσκιους των ανθρώπων
όχι τον άνθρωπο μέσα στον ίσκιο
που δεν ακούει παρά τη χαμηλή φωνή
της γης και του πελάγου εκεί που σμίγουν
της μοίρας τη φωνή. Στέκεται ολόρθος
στην όχθη, μέσα σε κουβάρια κόκαλα
μέσα σε στοίβες κίτρινα φύλλα:
άδειο κλουβί προσμένοντας
την ώρα της φωτιάς.
Ντρένοβο, φλεβάρησ 1937
Σε: “Τετράδιο Γυμνασμάτων I” (1940)
O velho e a morte
(Joseph Wright of
Derby: pintor inglês)
O velho
Tantos rebanhos
desfilaram tantos cavaleiros
pobres e ricos,
outros
de aldeias distantes
tinham passado a noite
nas valetas da
estrada
acenderam fogueiras
contra os lobos, vês
a cinza? Negras,
redondas cicatrizes.
Está cheio de sinais
tal como a estrada.
Atiravam no poço
ressequido, mais ao alto,
os cães raivosos, não
tem olhos está cheio
de sinais e é
delgado; sopra o vento;
não distingue coisa
alguma sabe tudo,
vácua bainha de
cigarra num tronco oco
não tem olhos nem nas
mãos, conhece
o nascer e o pôr do
sol conhece os astros
o sangue deles não o
nutre, nem morto
está, não tem estirpe
não irá morrer
não de esquecê-lo
assim como é, sem avoengo.
As unhas gastas dos
seus dedos
riscam cruzes sobre
pútridas lembranças
enquanto sopra o
vento turvo. Neva.
Vi a geada em torno
dos rostos
vi os lábios úmidos vi
as lágrimas congeladas
no canto do olho, vi
o sulco
da dor nas aletas do nariz e o labor
nas raízes da mão, vi
o corpo findar-se.
Não é só esta sombra
unida
a uma vara seca que
não dobra
nem se curva para
deitar-se, não o pode;
o sono espalharia as
suas juntas
pelas mãos dos
meninos para eles brincarem.
Como se dominasse os
galhos mortos
que se quebram ao
anoitecer e o vento
rompe pelos vales,
dominasse as sombras
dos homens
não o homem na sombra
que não escuta a
surda voz
da terra e do mar ali
onde misturam-se
à voz do destino.
Ergue-se bem erecto
na margem, entre
pilhas de ossos
e montes de folhas
amarelecidas:
jaula vazia à espera
da hora do fogo.
Drenovo, fevereiro de
1937
Em: “Cadernos de
Exercícios I” (1940)
Referências:
Em Grego
ΣΕΦΈΡΗΣ, Γιώργος. Ο γέρος. In: SEFERIS, George. Collected poems. A bilingual edition: Greek
x English. Translated, edited and introduced by Edmund Keeley and Philip
Sherrard. Expanded edition. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1981. p. 112 and 114.
Em Português
SEFÉRIS, Giorgos. O
velho. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção,
introdução, tradução direta do grego e notas de José Paulo Paes. São Paulo, SP:
Nova Alexandria, 1995. p. 84-85.
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