Hölderlin vê nestes “filhos
da montanha” – ligados tão apenas ao céu que os nutre e à terra que os trouxe à
luz – um ideal de autenticidade, força primordial e união cósmica, em contraste
com o mundo artificialmente “domesticado” do ser humano: ao entoar loas à
natureza indomável, o falante emite certa crítica velada às restrições de nossa
civilização, motivada por um indisfarçável desejo de liberdade e de conexão com
as forças orgânicas deste mundo.
O poeta se lamenta
por não poder libertar-se dos laços que o prendem à “vida social”: se não fosse
pela existência e o correspondente apego ao sentimento de amor – afirma ele –, “eu
moraria feliz, sem restrições, entre essas árvores”, experimentando uma vida
idílica, em perfeita simbiose com o meio ambiente, dando ensejo, assim, à sua
perspectiva de ver-se intocado por normas sociais limitantes.
J.A.R. – H.C.
Friedrich Hölderlin
(1770-1843)
Retratado por Franz
Karl Hiemer
Die Eichbäume
Aus den Gärten komm’
ich zu euch, ihr Söhne des Berges!
Aus den Gärten, da
lebt die Natur geduldig und häuslich,
Pflegend und wieder
gepflegt mit dem fleißigen Menschen zusammen.
Aber ihr, Ihr
Herrlichen! steht, wie ein Volk von Titanen
In der zahmeren Welt
und gehört nur euch und dem Himmel,
Der euch nährt’ und
erzog und der Erde, die euch geboren.
Keiner von euch ist
noch in die Schule der Menschen gegangen,
Und ihr drängt euch
fröhlich und frei, aus der kräftigen Wurzel,
Unter einander herauf
und ergreift, wie der Adler die Beute,
Mit gewaltigem Arme
den Raum, und gegen die Wolken
Ist euch heiter und
groß die sonnige Krone gerichtet.
Eine Welt ist jeder
von euch, wie die Sterne des Himmels
Lebt ihr, jeder ein
Gott, in freiem Bunde zusammen.
Könnt’ ich die
Knechtschaft nur erdulden, ich neidete nimmer
Diesen Wald und
schmiegte mich gern ans gesellige Leben.
Fesselte nur nicht
mehr ans gesellige Leben das Herz mich,
Das von Liebe nicht
läßt, wie gern würd’ ich unter euch wohnen!
O Poderoso Carvalho
(Patrick O’Rourke:
artista norte-americano)
Os Carvalhos
Saindo dos jardins,
vou até vós, oh! filhos da montanha;
Dos jardins onde,
paciente e caseira, a Natureza convive
Com os homens
diligentes, cuidando e sendo deles cuidada.
Mas vós vos ergueis,
altivo povo de Titãs, em meio
A mundo mais dócil,
só de vós mesmos dependentes,
E do céu que vos
nutriu e educou, e da terra que gerou-vos.
Nenhum de vós frequentou
jamais a escola dos homens;
jubilosos e livres,
desde a robustez das raízes,
Vos lançais para o
alto, em tropel, com braço vigoroso
Conquistando o
espaço, como a águia à presa, e para as nuvens
Voltando as vossas
copas amplas, joviais, ensolaradas.
É um mundo cada um de
vós; como os astros do céu,
Viveis em livre
associação, cada qual um deus.
Tolerasse eu ser
escravo, jamais invejaria
Essa floresta e me
sujeitaria à vida gregária.
Não estivesse meu
coração cativo dessa vida
E do amor, quanto me
agradaria viver à sombra vossa!
Referência:
HÖLDERLIN, Friedrich.
Die eichbäume / Os carvalhos. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas.
Seleção, tradução e introdução de José Paulo Paes. São Paulo, SP: Companhia das
Letras, 1991. Em alemão: p. 60; em português: p. 61.
❁


Nenhum comentário:
Postar um comentário