Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 19 de julho de 2025

Friedrich Hölderlin - Os Carvalhos

Hölderlin vê nestes “filhos da montanha” – ligados tão apenas ao céu que os nutre e à terra que os trouxe à luz – um ideal de autenticidade, força primordial e união cósmica, em contraste com o mundo artificialmente “domesticado” do ser humano: ao entoar loas à natureza indomável, o falante emite certa crítica velada às restrições de nossa civilização, motivada por um indisfarçável desejo de liberdade e de conexão com as forças orgânicas deste mundo.

 

O poeta se lamenta por não poder libertar-se dos laços que o prendem à “vida social”: se não fosse pela existência e o correspondente apego ao sentimento de amor – afirma ele –, “eu moraria feliz, sem restrições, entre essas árvores”, experimentando uma vida idílica, em perfeita simbiose com o meio ambiente, dando ensejo, assim, à sua perspectiva de ver-se intocado por normas sociais limitantes.

 

J.A.R. – H.C.

 

Friedrich Hölderlin

(1770-1843)

Retratado por Franz Karl Hiemer

 

Die Eichbäume

 

Aus den Gärten komm’ ich zu euch, ihr Söhne des Berges!

Aus den Gärten, da lebt die Natur geduldig und häuslich,

Pflegend und wieder gepflegt mit dem fleißigen Menschen zusammen.

Aber ihr, Ihr Herrlichen! steht, wie ein Volk von Titanen

In der zahmeren Welt und gehört nur euch und dem Himmel,

Der euch nährt’ und erzog und der Erde, die euch geboren.

Keiner von euch ist noch in die Schule der Menschen gegangen,

Und ihr drängt euch fröhlich und frei, aus der kräftigen Wurzel,

Unter einander herauf und ergreift, wie der Adler die Beute,

Mit gewaltigem Arme den Raum, und gegen die Wolken

Ist euch heiter und groß die sonnige Krone gerichtet.

Eine Welt ist jeder von euch, wie die Sterne des Himmels

Lebt ihr, jeder ein Gott, in freiem Bunde zusammen.

Könnt’ ich die Knechtschaft nur erdulden, ich neidete nimmer

Diesen Wald und schmiegte mich gern ans gesellige Leben.

Fesselte nur nicht mehr ans gesellige Leben das Herz mich,

Das von Liebe nicht läßt, wie gern würd’ ich unter euch wohnen!

 

O Poderoso Carvalho

(Patrick O’Rourke: artista norte-americano)

 

Os Carvalhos

 

Saindo dos jardins, vou até vós, oh! filhos da montanha;

Dos jardins onde, paciente e caseira, a Natureza convive

Com os homens diligentes, cuidando e sendo deles cuidada.

Mas vós vos ergueis, altivo povo de Titãs, em meio

A mundo mais dócil, só de vós mesmos dependentes,

E do céu que vos nutriu e educou, e da terra que gerou-vos.

Nenhum de vós frequentou jamais a escola dos homens;

jubilosos e livres, desde a robustez das raízes,

Vos lançais para o alto, em tropel, com braço vigoroso

Conquistando o espaço, como a águia à presa, e para as nuvens

Voltando as vossas copas amplas, joviais, ensolaradas.

É um mundo cada um de vós; como os astros do céu,

Viveis em livre associação, cada qual um deus.

Tolerasse eu ser escravo, jamais invejaria

Essa floresta e me sujeitaria à vida gregária.

Não estivesse meu coração cativo dessa vida

E do amor, quanto me agradaria viver à sombra vossa!

 

Referência:

 

HÖLDERLIN, Friedrich. Die eichbäume / Os carvalhos. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e introdução de José Paulo Paes. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1991. Em alemão: p. 60; em português: p. 61.

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