Eis aqui uma bela
celebração do princípio da humildade, ou melhor, uma exortação ao serviço
desinteressado e um convite a que cultivemos essa virtude prima-irmã do altruísmo
em nossas vidas: trata-se de um recordatório de que a verdadeira grandeza pode
estar nas pequenas ações quotidianas – não só nas obras de efeito! –, também potencialmente
versadas a remover os obstáculos do caminho e dissipar os rancores nos
corações.
Mistral cria
paralelos com as atividades da natureza – que estaria sempre imbuída de uma
sede de servir, desde as nuvens de onde fluem as chuvas para regar a terra, até
o vento que esparge as sementes, passando pelos sulcos que permitem o eficiente
espalhamento das águas –, com o claro objetivo de albergar a tese de que o
serviço é uma forma de vida nobre e gratificante, não tendo nada de
subserviente ou desprezível, pois que, de algum modo, se atrela à
responsabilidade social de cada um.
J.A.R. – H.C.
Gabriela Mistral
(1889-1957)
El placer de servir
Toda la naturaleza es
un anhelo de servicio. Sirve la nube.
Sirve el viento.
Sirve el surco.
Donde haya un árbol
que plantar, plántalo tú. Donde haya
un esfuerzo que todos
esquiven, acéptalo tú.
Sé el que apartó la
piedra del camino, el odio entre los
corazones y la
dificultad del problema.
Hay la alegría de ser
sano y de ser justo. Pero hay sobre
todo la hermosa, la
inmensa alegría de servir.
¡Qué triste sería el
mundo si todo en él estuviera hecho, si no
hubiera un rosal que
plantar, una empresa que emprender!
No te llamen
solamente los trabajos fáciles. ¡Es tan bello
hacer lo que otros
esquivan! Pero no caigas en el error de
que solo se hace
mérito con grandes trabajos. Hay pequeños
servicios que son
buenos servicios: adornar una mesa,
ordenar una casa,
peinar un niño.
Aquel es el que
critica. Este es el que destruye. Tú sé el
que sirve.
El servir no es faena
solo de seres inferiores. Dios, que da
el fruto y la luz,
sirve. Pudiera llamársele así: El que sirve.
Y tiene sus ojos
fijos en nuestras manos y nos pregunta
cada día:
– ¿Servirás hoy? ¿A
quién? ¿Al árbol, a tu amigo, a tu madre?
Octubre de 1922
Cristo e a mulher
samaritana
(Lavinia Fontana:
pintora italiana)
O prazer de servir
Toda a natureza é um
anseio por serviço. Serve a nuvem.
Serve o vento. Serve
o sulco.
Onde haja uma árvore
por plantar, planta-a tu. Onde haja
um esforço de que
todos se esquivem, aceita-o tu.
Sê aquele que se
dispõe a remover a pedra do caminho,
o ódio entre os corações
e a dificuldade do problema.
Há a alegria de ser são
e de ser justo. Mas há, acima de
tudo, a bela, a
imensa alegria de servir.
Quão triste o mundo seria
se tudo nele já estivesse feito, se não
houvesse uma roseira
por plantar, uma empresa a abrir as portas!
Não te deixes atrair
apenas por trabalhos fáceis. É tão belo
fazer aquilo de que
se esquivam os outros! Mas não caias no erro
de que só há méritos
nos grandes trabalhos. Há pequenos
serviços que são bons
serviços: decorar uma mesa,
arrumar uma casa,
pentear uma criança.
Aquele é o que
critica. Este é o que destrói. Sê tu o
que serve.
Servir não é tarefa
exclusiva de seres inferiores. Deus, que dá
o fruto e a luz, está
a serviço. Poderíamos chamar-lhe assim:
Aquele que serve.
E tem seus olhos
fixos em nossas mãos e nos pergunta
a cada dia:
– Servirás hoje? A
quem? À árvore, ao teu amigo, à tua mãe?
Outubro de 1922
Referência:
MISTRAL, Gabriela. El
placer de servir. In: __________. Obra reunida. Tomo V: prosa. Selección
e investigación por Gustavo Barrera Calderón; Carlos Decap Fernández; Jaime
Quezada Ruiz y Magda Sepúlveda Eriz. 1. ed. Santiago, CL: Ediciones Biblioteca
Nacional, ago. 2020. p. 183-184.
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