Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Gabriela Mistral - O prazer de servir

Eis aqui uma bela celebração do princípio da humildade, ou melhor, uma exortação ao serviço desinteressado e um convite a que cultivemos essa virtude prima-irmã do altruísmo em nossas vidas: trata-se de um recordatório de que a verdadeira grandeza pode estar nas pequenas ações quotidianas – não só nas obras de efeito! –, também potencialmente versadas a remover os obstáculos do caminho e dissipar os rancores nos corações.

 

Mistral cria paralelos com as atividades da natureza – que estaria sempre imbuída de uma sede de servir, desde as nuvens de onde fluem as chuvas para regar a terra, até o vento que esparge as sementes, passando pelos sulcos que permitem o eficiente espalhamento das águas –, com o claro objetivo de albergar a tese de que o serviço é uma forma de vida nobre e gratificante, não tendo nada de subserviente ou desprezível, pois que, de algum modo, se atrela à responsabilidade social de cada um.

 

J.A.R. – H.C.

 

Gabriela Mistral

(1889-1957)

 

El placer de servir

 

Toda la naturaleza es un anhelo de servicio. Sirve la nube.

Sirve el viento. Sirve el surco.

 

Donde haya un árbol que plantar, plántalo tú. Donde haya

un esfuerzo que todos esquiven, acéptalo tú.

 

Sé el que apartó la piedra del camino, el odio entre los

corazones y la dificultad del problema.

 

Hay la alegría de ser sano y de ser justo. Pero hay sobre

todo la hermosa, la inmensa alegría de servir.

 

¡Qué triste sería el mundo si todo en él estuviera hecho, si no

hubiera un rosal que plantar, una empresa que emprender!

 

No te llamen solamente los trabajos fáciles. ¡Es tan bello

hacer lo que otros esquivan! Pero no caigas en el error de

que solo se hace mérito con grandes trabajos. Hay pequeños

servicios que son buenos servicios: adornar una mesa,

ordenar una casa, peinar un niño.

 

Aquel es el que critica. Este es el que destruye. Tú sé el

que sirve.

 

El servir no es faena solo de seres inferiores. Dios, que da

el fruto y la luz, sirve. Pudiera llamársele así: El que sirve.

Y tiene sus ojos fijos en nuestras manos y nos pregunta

cada día:

 

– ¿Servirás hoy? ¿A quién? ¿Al árbol, a tu amigo, a tu madre?

 

Octubre de 1922

 

Cristo e a mulher samaritana

(Lavinia Fontana: pintora italiana)

 

O prazer de servir

 

Toda a natureza é um anseio por serviço. Serve a nuvem.

Serve o vento. Serve o sulco.

 

Onde haja uma árvore por plantar, planta-a tu. Onde haja

um esforço de que todos se esquivem, aceita-o tu.

 

Sê aquele que se dispõe a remover a pedra do caminho,

o ódio entre os corações e a dificuldade do problema.

 

Há a alegria de ser são e de ser justo. Mas há, acima de

tudo, a bela, a imensa alegria de servir.

 

Quão triste o mundo seria se tudo nele já estivesse feito, se não

houvesse uma roseira por plantar, uma empresa a abrir as portas!

 

Não te deixes atrair apenas por trabalhos fáceis. É tão belo

fazer aquilo de que se esquivam os outros! Mas não caias no erro

de que só há méritos nos grandes trabalhos. Há pequenos

serviços que são bons serviços: decorar uma mesa,

arrumar uma casa, pentear uma criança.

 

Aquele é o que critica. Este é o que destrói. Sê tu o

que serve.

 

Servir não é tarefa exclusiva de seres inferiores. Deus, que dá

o fruto e a luz, está a serviço. Poderíamos chamar-lhe assim:

Aquele que serve.

E tem seus olhos fixos em nossas mãos e nos pergunta

a cada dia:

 

– Servirás hoje? A quem? À árvore, ao teu amigo, à tua mãe?

 

Outubro de 1922

 

Referência:

 

MISTRAL, Gabriela. El placer de servir. In: __________. Obra reunida. Tomo V: prosa. Selección e investigación por Gustavo Barrera Calderón; Carlos Decap Fernández; Jaime Quezada Ruiz y Magda Sepúlveda Eriz. 1. ed. Santiago, CL: Ediciones Biblioteca Nacional, ago. 2020. p. 183-184.

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