Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 6 de julho de 2025

Gerard Manley Hopkins - A lanterna lá fora

Tendo sido Hopkins, além de poeta, um sacerdote pertencente à Companhia de Jesus, grande parte de seus poemas explora temas existenciais e espirituais, a exemplo do soneto que ora se transcreve, no qual expressa uma profunda esperança cristã na convivência e na redenção divinas, para além da transitoriedade terrena do existir humano, de suas relações, de seus clarões sempre fugazes.

 

Distintamente da luz passageira que há em cada ser humano – sua beleza ou mente excepcional –, Cristo seria como um facho orientador nos mares turbulentos da existência, um farol perene a sinalizar a possibilidade de resgate, enquanto confiável amigo que se dispõe a oferecer devotamento incondicional, bondade, cuidado e eterna companhia para aqueles que o seguem.

 

J.A.R. – H.C.

 

Gerard Manley Hopkins

(1844-1889)

 

The lantern out of doors

 

Sometimes a lantern moves along the night,

That interests our eyes. And who goes there?

I think; where from and bound, I wonder, where,

With, all down darkness wide, his wading light?

 

Men go by me whom either beauty bright

In mould or mind or what not else makes rare:

They rain against our much-thick and marsh air

Rich beams, till death or distance buys them quite.

 

Death or distance soon consumes them: wind

What most I may eye after, be in at the end

I cannot, and out of sight is out of mind.

 

Christ minds: Christ’s interest, what to avow or amend

There, éyes them, heart wánts, care haúnts, foot fóllows kínd,

Their ránsom, théir rescue, ánd first, fást, last friénd.

 

(N. Wales, May 1877)

 

Luz na escuridão

(Daniel Hodac: fotógrafo norte-americano)

 

A lanterna lá fora

 

Às vezes, no meio da noite move-se uma lanterna

Que atrai nosso olhar. Quem vai lá? quem a conduz?

Fico pensando, meditando de onde e para quê e aonde,

De quem, escuridão adentro, a tateante luz?

 

Por mim passam os homens, cujo brilho e beleza

De índole ou de mente, ou do que seja, torna-os raros;

E, até que a morte ou a distância os trague, esparzem

Em nosso denso ar palustre ricos raios.

 

Distância ou morte cedo os consome. E se perdem,

No fim, de todo o revolver de minha vista a persegui-los

Em vão – e, longe dos olhos, longe do coração.

 

Perto do coração de Cristo, cujos passos os seguem –

Seu olhar e cuidado amoroso em confirmá-los, corrigi-los –

Fiel primeiro e último amigo, resgate, salvação.

 

(N. Wales, Maio de 1877)

 

Referência:

 

HOPKINS, Gerard Manley. The lantern out of doors / A lanterna lá fora. Tradução de Aíla de Oliveira Gomes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução, introdução e notas de Aíla de Oliveira Gomes. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1989. Em inglês: p. 94; em português: p. 95.

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