Tendo sido Hopkins,
além de poeta, um sacerdote pertencente à Companhia de Jesus, grande parte de
seus poemas explora temas existenciais e espirituais, a exemplo do soneto que
ora se transcreve, no qual expressa uma profunda esperança cristã na convivência
e na redenção divinas, para além da transitoriedade terrena do existir humano,
de suas relações, de seus clarões sempre fugazes.
Distintamente da luz passageira
que há em cada ser humano – sua beleza ou mente excepcional –, Cristo seria
como um facho orientador nos mares turbulentos da existência, um farol perene a sinalizar a possibilidade de resgate, enquanto confiável amigo que se dispõe a oferecer devotamento
incondicional, bondade, cuidado e eterna companhia para aqueles que o seguem.
J.A.R. – H.C.
Gerard Manley Hopkins
(1844-1889)
The lantern out of
doors
Sometimes a lantern
moves along the night,
That interests our
eyes. And who goes there?
I think; where from
and bound, I wonder, where,
With, all down
darkness wide, his wading light?
Men go by me whom
either beauty bright
In mould or mind or
what not else makes rare:
They rain against our
much-thick and marsh air
Rich beams, till
death or distance buys them quite.
Death or distance
soon consumes them: wind
What most I may eye
after, be in at the end
I cannot, and out of
sight is out of mind.
Christ minds:
Christ’s interest, what to avow or amend
There, éyes them,
heart wánts, care haúnts, foot fóllows kínd,
Their ránsom, théir
rescue, ánd first, fást, last friénd.
(N. Wales, May 1877)
Luz na escuridão
(Daniel Hodac:
fotógrafo norte-americano)
A lanterna lá fora
Às vezes, no meio da
noite move-se uma lanterna
Que atrai nosso
olhar. Quem vai lá? quem a conduz?
Fico pensando,
meditando de onde e para quê e aonde,
De quem, escuridão
adentro, a tateante luz?
Por mim passam os
homens, cujo brilho e beleza
De índole ou de
mente, ou do que seja, torna-os raros;
E, até que a morte ou
a distância os trague, esparzem
Em nosso denso ar
palustre ricos raios.
Distância ou morte
cedo os consome. E se perdem,
No fim, de todo o
revolver de minha vista a persegui-los
Em vão – e, longe dos
olhos, longe do coração.
Perto do coração de
Cristo, cujos passos os seguem –
Seu olhar e cuidado
amoroso em confirmá-los, corrigi-los –
Fiel primeiro e
último amigo, resgate, salvação.
(N. Wales, Maio de 1877)
Referência:
HOPKINS, Gerard
Manley. The lantern out of doors / A lanterna lá fora. Tradução de Aíla de
Oliveira Gomes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução, introdução e
notas de Aíla de Oliveira Gomes. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1989. Em
inglês: p. 94; em português: p. 95.
❁


Nenhum comentário:
Postar um comentário