O poeta pervaga pelos
sentidos da palavra adeus, enquanto despedida e separação, e não só no plano
físico, senão também no existencial, pois que às voltas tanto de um
desapegar-se das coisas deste mundo, quanto de um profundo impacto emocional no
recesso da alma: perceba-se que Stevens examina tal experiência à luz de uma
realidade desprovida de transcendência, de qualquer dimensão sidérea, digo
melhor, sem vida após a morte.
Nesse contexto, as
paradas nas sendas pelas quais passamos são vistas como pontos finais, com
maior significado e peso do que simples separações: sem um reino etéreo na
eternidade que se vislumbre, as despedidas revelam-se como derradeiros sinais
de pontuação na narrativa de nossas existências.
Para uma vida com
transcurso num plano modesto, sem grandes ambições, que então busquemos, como
alternativa, mais descortino em nossas introspecções, apreciando os pequenos
prazeres da vida, em sintonia com o sempiterno ciclo das sazões naturais, entre
comprazimentos e belezas, mantendo o espírito aberto – e eis aqui a irônica
moção do poeta! – aos influxos restauradores da luz do sol.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
Waving Adieu,
Adieu, Adieu
That would be waving
and that would be crying,
Crying and shouting
and meaning farewell,
Farewell in the eyes
and farewell at the centre,
Just to stand still
without moving a hand.
In a world without
heaven to follow, the stops
Would be endings,
more poignant than partings,
profounder,
And that would be
saying farewell, repeating farewell,
Just to be there and
just to behold.
To be one’s singular
self, to despise
The being that
yielded so little, acquired
So little, too little
to care, to turn
To the ever-jubilant
weather, to sip
One’s cup and never
to say a word,
Or to sleep or just
to lie there still,
Just to be there,
just to be beheld,
That would be bidding
farewell, be bidding farewell.
One likes to practice
the thing. They practice,
Enough, for heaven.
Ever-jubilant,
What is there here
but weather, what spirit
Have I except it
comes from the sun?
In: “Ideas of Order” (1936)
Acenando adeus ao pai
(Jozef Israels:
pintor holandês)
Acenando Adieu,
Adieu, Adieu
Seria como acenar,
seria como chorar,
Chorar e gritar e apreender
o sentido do adeus,
Adeus no olhar e
adeus na alma,
Tão só por se ficar
parado sem mover uma mão.
Em um mundo sem céu a
que seguir, as paradas
Seriam como finais,
mais pungentes e profundas
que as partidas,
E tudo a afigurar-se como
dizer adeus, redizer adeus,
Tão só por se lá
estar, apenas a contemplar.
Ser o eu singular de
si mesmo, desprezar
O ser de tão poucas
obras, de tão poucas conquistas,
Tão poucas para requererem
cuidados, orientar-se
Ao tempo sempre radiante,
sorver pequenos goles
Da própria taça, sem jamais
dizer uma palavra,
Ou adormecer, ou
apenas quedar-se deitado,
Tão só por se lá
estar, apenas a ser visto.
E tudo a afigurar-se
como dizer adeus, dizer adeus.
Todos se deleitam em
praticar a coisa. Praticam,
O bastante, pelo
paraíso. Mas o que há aqui senão
O tempo sempre radiante,
que espírito tenho eu
Exceto o que me vem
diretamente do sol?
Em: “Ideias de Ordem”
(1936)
Referência:
STEVENS, Wallace. Waving
adieu, adieu, adieu. In: __________. The collected poems. 11th
print. New York, NY: Alfred A. Knopf, feb. 1971. p. 127-128.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário