Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Bruna Lombardi - Porteiras

A uma visão objetiva e distanciada do que se costuma chamar pelo substantivo “pátria” – com foco em seu aspecto geográfico representado em projeções cartográficas, nas quais um dado país tem um contorno bem delimitado, enquanto conjunto de rios, cordilheiras, montanhas e outros acidentes físicos –, a falante contrapõe outra abordagem, mais pessoal e subjetiva, segundo a qual a pátria seria melhor retratada como uma comunidade de pessoas.

 

Nesse caso, compartilham elas um sentimento de solidariedade e, em sua individualidade, comungam de uma fé inquebrantável na liberdade, refletindo a crença, otimista e esperançosa, de que a pátria pode superar os inúmeros desafios com que se depara no curso de sua história, a partir de uma identidade nacional arrimada num compromisso coletivo.

 

Tudo muito bem: mas vai aqui um contraponto que se oferece ao leitor, tendo em vista a abordagem absolutamente distorcida que muitos políticos, sobretudo da ultradireita, adotam em relação à liberdade – mormente a de expressão –, lançando mão de fake news com frequência, cometendo delitos à mancheia, nomeadamente contra a honra de seus opositores, estejam eles a operar em quaisquer dos Poderes da República: liberdade está em conexão direta com responsabilidade, pois que, do contrário, não passa de arbitrariedade, obviamente a ser combatida pelos meios legais.

 

Veja-se o que nos diz o famoso neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997), em determinada passagem de sua obra “Em busca de sentido” (vide especificação completa no campo de “Referências”):

 

“A liberdade (...) não é a última palavra. Não é mais que parte da história e metade da verdade. Liberdade é apenas o aspecto negativo do fenômeno integral cujo aspecto positivo é responsabilidade. Na verdade, a liberdade está em perigo de degenerar, transformando-se em mera arbitrariedade, a menos que seja vivida em termos de responsabilidade”. (FRANKL, 2008, p. 154)

 

J.A.R. – H.C.

 

Bruna Lombardi

(n. 1951)

 

Porteiras

 

Vi minha pátria a primeira vez num mapa

eu curiosa de rios, cordilheiras

os nomes das montanhas

os acidentes

minha pátria era um contorno.

 

Depois fui conhecendo minha pátria

olhando os olhos das pessoas pelas ruas

a minha história misturada com a dos outros

com a de todos

somos todos uma pátria e um sentimento

solitários, solidários.

 

Minha pátria somos nós nessa praça

acreditando que virá um tempo de se restaurar

toda a verdade

nós que choramos, que lutamos, que temos uma fé

inabalável na palavra liberdade.

 

Farol, mar e gaivotas

(Elena Reutova: artista russa)

 

Referências:

 

FRANKL, Viktor. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Tradução de Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline. 25 ed.  São Leopoldo, RS: Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

 

LOMBARDI, Bruna. Porteiras. In: __________. O perigo do dragão. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1984. p. 21.

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