Evocando um mundo de
sensações e de sutilíssimas nostalgias, Pizarnik mescla o tangível ao abstrato
e emocional, resultando numa atmosfera poética – e até mesmo mística – que nos
convida a refletir sobre a complexidade das lembranças, as experiências de
perda e a persistência dos sentimentos nos meandros da mente humana.
Sob a aparência do
silêncio, fervilham n’alma turbações que não se deixam externar, enclausurando
o espírito num estado de melancolia do qual aspira por se libertar, para dar
vez às expressões de amor, de paixão, de vida enfim, deixando-o mais próximo dos
rossios do comprazimento, da felicidade e da plenitude do bem-viver.
J.A.R. – H.C.
Alejandra Pizarnik
(1936-1972)
más allá del olvido
alguna vez de un
costado de la luna
verás caer los besos
que brillan en mí
las sombras sonreirán
altivas
luciendo el secreto
que gime vagando
vendrán las hojas
impávidas
que algún día fueron
lo que mis ojos
vendrán las mustias
fragancias
que innatas
descendieron del alado son
vendrán las rojas
alegrías
que burbujean
intensas
en el sol que redondea
las armonías equidistantes
en el humo danzante
de la pipa de mi amor
En: “la tierra más
ajena” (1955)
Cair no esquecimento
(Mairon Almeida:
artista brasileiro)
para além do
esquecimento
alguma vez de um
costado da lua
verás cair os beijos
que brilham em mim
as sombras sorrirão
altivas
luzindo o segredo que
geme vagueando
virão as folhas
impávidas que
algum dia foram os
meus olhos
virão as murchas
fragrâncias que
inatas desceram do
alado som
virão as vermelhas
alegrias que
borbulham intensas ao
sol que
arredonda as
harmonias equidistantes
no fumo dançante do cachimbo do meu amor
Em: “a terra mais
distante” (1955)
Referências:
Em Espanhol
PIZARNIK, Alejandra. más
allá del olvido. In: __________. Poesía completa: 1955-1972. Edición de
Ana Becciú. Buenos Aires, AR: Editorial Lumen, 2001. p. 42.
Em Português
PIZARNIK, Alejandra. para
além do esquecimento. Tradução de Fernando Pinto do Amaral. In: __________. Antologia
poética. Seleção e prefácio de Ana Becciú e Patricio Ferrari. Tradução de
Fernando Pinto do Amaral. 1. ed. Lisboa, PT: tinta-da-china, mar. 2020. p. 20.
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