Este poema de Parra detém-se
sobre a natureza da imaginação, com o “homem imaginário” a usufruir uma
existência num mundo que é fruto de sua própria criação: sua vida está repleta
de coisas que, supostamente, não existem em seu mundo real, senão em sua
galáxia de ideação, como uma mansão, árvores, um rio, quadros, fissuras, fatos,
lugares, tempos, sombras, canções, um sol, uma lua e uma companheira – ou seja,
um amplo domínio de quimeras, esperanças, desejos e inquietações.
Sonhar é necessário,
mas, para não se perder o contato com o mundo real, urge trazer a uma condição
de presença a vida a que se aspira, para colocar em linha com o entorno os traços
mais profundos de nossas identidades, fazendo da história de cada qual não um
enredo de ficção, uma crônica de artificialidades, senão um acervo de memórias, a representar a evolução de uma vida plena de realizações.
J.A.R. – H.C.
Nicanor Parra
(1914-2018)
El hombre imaginario
El hombre imaginario
vive en una mansión
imaginaria
rodeada de árboles
imaginarios
a la orilla de un río
imaginario
De los muros que son
imaginarios
penden antiguos
cuadros imaginarios
irreparables grietas
imaginarias
que representan
hechos imaginarios
ocurridos en mundos
imaginarios
en lugares y tiempos
imaginarios
Todas las tardes
tardes imaginarias
sube las escaleras
imaginarias
y se asoma al balcón
imaginario
a mirar el paisaje
imaginario
que consiste en un
valle imaginario
circundado de cerros
imaginarios
Sombras imaginarias
vienen por el camino
imaginario
entonando canciones
imaginarias
a la muerte del sol
imaginario
Y en las noches de
luna imaginaria
sueña con la mujer
imaginaria
que le brindó su amor
imaginario
vuelve a sentir ese
mismo dolor
ese mismo placer
imaginario
y vuelve a palpitar
el corazón del hombre
imaginario
Retrato de um homem imaginário
(Juliette Rousseau:
artista francesa)
O homem imaginário
O homem imaginário
vive numa mansão
imaginária
rodeada de árvores
imaginárias
à margem de um rio
imaginário
Das paredes que são
imaginárias
pendem antigos
quadros imaginários
irreparáveis fissuras
imaginárias
que representam fatos
imaginários
ocorridos em mundos
imaginários
em lugares e tempos
imaginários
Todas as tardes
tardes imaginárias
ele sobe as escadas
imaginárias
e assoma à sacada
imaginária
a contemplar a
paisagem imaginária
que consiste em um
vale imaginário
circundado por
colinas imaginárias
Sombras imaginárias
vêm pelo caminho
imaginário
entoando canções
imaginárias
à morte do sol
imaginário
E nas noites de lua
imaginária
sonha com a mulher imaginária
que lhe ofereceu o
seu amor imaginário
volta a sentir essa
mesma dor
esse mesmo prazer
imaginário
e torna a palpitar
o coração do homem
imaginário
Referência:
PARRA, Nicanor. El
hombre imaginario. In: SERRANO, Francisco (Selección y Prólogo). 24 poetas
latinoamericanos. Edición de Rocío Miranda. 1. ed. México, D.F.: CIDCLI,
1997. p. 126. (Coedición ‘Latinoamericana’)
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