Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 18 de janeiro de 2025

Nicanor Parra - O homem imaginário

Este poema de Parra detém-se sobre a natureza da imaginação, com o “homem imaginário” a usufruir uma existência num mundo que é fruto de sua própria criação: sua vida está repleta de coisas que, supostamente, não existem em seu mundo real, senão em sua galáxia de ideação, como uma mansão, árvores, um rio, quadros, fissuras, fatos, lugares, tempos, sombras, canções, um sol, uma lua e uma companheira – ou seja, um amplo domínio de quimeras, esperanças, desejos e inquietações.

 

Sonhar é necessário, mas, para não se perder o contato com o mundo real, urge trazer a uma condição de presença a vida a que se aspira, para colocar em linha com o entorno os traços mais profundos de nossas identidades, fazendo da história de cada qual não um enredo de ficção, uma crônica de artificialidades, senão um acervo de memórias, a representar a evolução de uma vida plena de realizações.

 

J.A.R. – H.C.

 

Nicanor Parra

(1914-2018)

 

El hombre imaginario

 

El hombre imaginario

vive en una mansión imaginaria

rodeada de árboles imaginarios

a la orilla de un río imaginario

 

De los muros que son imaginarios

penden antiguos cuadros imaginarios

irreparables grietas imaginarias

que representan hechos imaginarios

ocurridos en mundos imaginarios

en lugares y tiempos imaginarios

 

Todas las tardes tardes imaginarias

sube las escaleras imaginarias

y se asoma al balcón imaginario

a mirar el paisaje imaginario

que consiste en un valle imaginario

circundado de cerros imaginarios

 

Sombras imaginarias

vienen por el camino imaginario

entonando canciones imaginarias

a la muerte del sol imaginario

 

Y en las noches de luna imaginaria

sueña con la mujer imaginaria

que le brindó su amor imaginario

vuelve a sentir ese mismo dolor

ese mismo placer imaginario

y vuelve a palpitar

el corazón del hombre imaginario

 

Retrato de um homem imaginário

(Juliette Rousseau: artista francesa)

 

O homem imaginário

 

O homem imaginário

vive numa mansão imaginária

rodeada de árvores imaginárias

à margem de um rio imaginário

 

Das paredes que são imaginárias

pendem antigos quadros imaginários

irreparáveis fissuras imaginárias

que representam fatos imaginários

ocorridos em mundos imaginários

em lugares e tempos imaginários

 

Todas as tardes tardes imaginárias

ele sobe as escadas imaginárias

e assoma à sacada imaginária

a contemplar a paisagem imaginária

que consiste em um vale imaginário

circundado por colinas imaginárias

 

Sombras imaginárias

vêm pelo caminho imaginário

entoando canções imaginárias

à morte do sol imaginário

 

E nas noites de lua imaginária

sonha com a mulher imaginária

que lhe ofereceu o seu amor imaginário

volta a sentir essa mesma dor

esse mesmo prazer imaginário

e torna a palpitar

o coração do homem imaginário

 

Referência:

 

PARRA, Nicanor. El hombre imaginario. In: SERRANO, Francisco (Selección y Prólogo). 24 poetas latinoamericanos. Edición de Rocío Miranda. 1. ed. México, D.F.: CIDCLI, 1997. p. 126. (Coedición ‘Latinoamericana’)

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