Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Héctor Rojas Herazo - Cartão de Ano-Novo

O falante encontra-se à espera do Ano-Novo, oprimido pelo tempo a impor desgaste a tudo quanto se lhe apresenta como real, deixando-lhe nos cabelos os efeitos desse embate, a saber, as cãs antecipatórias do outono da vida, frente às quais não faz o homem senão voltar-se sobre si mesmo, para buscar a quem censurar por sua ímproba forma de ser.

 

Uma vida cheia de oportunidades perdidas e de arrependimentos depara-se com a necessidade de purga e de expiação, para que se possa transmutar a “agonia” a um sabor de gáudio, longe da sensação de melancolia e de taciturnidade que a muitos atinge durante esta quadra: que neste novo ano sejamos mais resilientes para superar os obstáculos, renovando-nos para celebrar a eternidade desde agora!

 

J.A.R. – H.C.

 

Héctor Rojas Herazo

(1921-2002)

 

Estampa de Año Nuevo

 

Miras el tiempo atrás, miras tu sangre,

tus derrotadas horas, tu sonido,

malhayando un tal vez y un no me importa.

Fundido con el mar, la muerte, el sueño,

purgas en lo que fuiste, quieres pena,

regresas al aroma de un miércoles, al sigilo

de tus desnudos pies en una alcoba.

Recordando un recuerdo, te preguntas

por lo que pudo ser y lo que ha sido.

Lo que eres, lo que tu sed y tu suplicio afirma.

Y encuentras tu carcomido sol, tu mismo luto,

tu misma piel ajada,

tu idéntica manera de verte en un espejo

con el tiempo lamiendo tus espaldas.

Pruebas la eternidad:

el ancho, el filo de un rencoroso diente.

Es entonces cuando te vuelves sin saber

y escuchas, cuando abrazas y ríes,

cuando dices con amable terror,

de labios para afuera o para adentro:

“Te felicito, amigo; te mereces

el año, la agonía que has ganado”.

Y con tu voz sacudes la ceniza

que la muerte ha dejado en sus cabellos.

 

En: “Las Úlceras de Adán” (1995)

 

A Cidade Natalina

(Alla Kyslyakova: artista ucraniana)

 

Cartão de Ano-Novo

 

Olhas para trás no tempo e vês teu sangue,

tuas derrotadas horas, teu discurso,

deplorando um talvez e um não me importa.

Fundido com o mar, a morte, o sonho,

purgas no que foste, queres pena,

regressas ao aroma de uma quarta-feira,

à privança de teus pés desnudos numa alcova.

Recordando uma lembrança, te perguntas

sobre o que poderia ter sido e o que foi.

O que és, o que afirmam tua sede e teu tormento.

E encontras teu carcomido sol, teu próprio luto,

tua própria pele desgastada,

teu modo idêntico de te ver num espelho

com o tempo a lamber tuas costas.

Provas a eternidade:

a largueza, o gume de um rancoroso dente.

E quando então te viras sem saber

e escutas, quando abraças e ris,

quando dizes com suave terror,

dos lábios para fora ou para dentro:

“Felicito-te, amigo; mereces

o ano, a agonia que ganhaste”.

E com tua voz sacodes a cinza

que a morte deixou em seus cabelos.

 

Em: “As Úlceras de Adão” (1995)

 

Referência:

 

HERAZO, Héctor Rojas. Estampa de año nuevo. In: __________. Las esquinas del viento: antología. Selección y prólogo de Juan Manuel Roca y Felipe Agudelo. 1. ed. Medellín, CO: Fondo Editorial Universidad EAFIT, nov. 2001. p. 136.

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário